segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Simple Man



Discurso de posse de Obama

"Sim, o governo deve liderar o caminho da independência energética, mas cada um de nós deve fazer nossa parte para tornar as nossas casas e as nossas empresas mais eficientes. Sim, temos de dar mais chances de êxito aos jovens que caiam na vida do crime e desespero. Mas todos nós temos de fazer nossa parte como pais, para desligar a TV e ler para nossos filhos e sermos responsáveis pelo fornecimento de amor e da orientação que necessitam.

Sim, podemos discutir e debater as nossas posições apaixonadamente, mas neste momento de definição, todos nós devemos convocar a força e a graça para superar as nossas diferenças e unir esforços comuns – preto, branco, Latino, asiáticos, Nativo Americano; democrata e republicano, jovens e velhos, ricos e pobres, gays e heteros, deficientes ou não. Todos nós temos de nos juntar.

Ohio, nesta eleição não podemos permitir os mesmos jogos políticos e táticas que são utilizadas pra colocar um contra o outro e fazer nós termos medo um do outro. O desafio é demasiado elevado para nos dividir em classes e regiões e antecedentes; pelo que nós somos ou pelo que acreditamos. Porque, apesar do que os nossos adversários possam dizer, não há partes verdadeiras ou falsas neste país. Não há qualquer cidade ou região que seja mais pro-América do que em qualquer outro lugar – somos uma nação, todos nós orgulhosos, todos nós patriotas.

Existem aqueles patriotas que apoiaram a guerra no Iraque e patriotas que se opuseram à mesma; patriotas que acreditam em políticas democráticas e aqueles que acreditam em políticas republicanas. Os homens e mulheres que servem em nossos campos de batalha, alguns podem ser democratas, republicanos e Independentes, mas eles lutaram juntos e sangraram juntos, e alguns morreram juntos sob a mesma e orgulhosa bandeira. Eles não serviram a uma América vermelha ou América azul - eles serviram aos Estados Unidos da América.

Não vai ser fácil, Ohio. Nem vai ser rápido. Mas vocês e eu sabemos que é tempo para se unir e mudar este país. Alguns dos senhores podem ser cínicos e irritados com a política. Muitos de vocês podem estar desapontados e mesmo furiosos com seus líderes. Vocês têm todo o direito de estar. Mas, apesar de tudo isto, eu lhes peço o que foi pedido aos americanos em toda a nossa história. Peço a todos que acreditem – não apenas nas minhas habilidades de trazer mudanças, mas na sua habilidade. Eu sei que é possível uma mudança. Porque eu a tenho visto nos últimos 21 meses. Porque na campanha tenho tido o privilégio de testemunhar o melhor da América.

Eu a tenho visto nas filas de eleitores em torno das escolas e igrejas; nos jovens que lançam seu voto pela primeira vez, e os não tão jovens que se envolveram novamente após um longo tempo. Tenho visto nos trabalhadores que preferem a redução das suas horas a ver os seus amigos perderem o emprego; Vejo nos vizinhos que abrigam um estranho quando as inundações chegam; Nos soldados que se realistam após perderem um membro. Eu tenho visto no rosto dos homens e mulheres que eu tenho encontrado em inúmeros comícios e câmaras municipais em todo o país, homens e mulheres que falam de suas lutas mas também das suas esperanças e sonhos.

Ainda me lembro do email que uma mulher chamada Robyn me enviou depois de encontrá-la em Fort Lauderdale, Florida. Alguns dias depois do evento seu filho quase entrou na parada cardíaca, e foi diagnosticado com um problema de coração que só poderia ser tratado com um procedimento que custa dezenas de milhares de dólares. A companhia de seguros se recusou a pagar, e sua família simplesmente não têm esse tanto de dinheiro.

Em seu email, Robyn escreveu,"Só peço isto de você – nos dias em que se sinta tão cansado que não pode nem pensar em dizer uma palavra para o povo, pense em nós. Quando todos aqueles que se opõem a você o deixarem pra baixo, alcance seu mais profundo e volte com tudo".

Ohio, é isso que é Esperança – a coisa interior que insiste, apesar de todos os elementos que provem o contrário, que algo melhor está à espera na próxima curva; que insiste que existem dias melhores à frente. Se estivermos dispostos a trabalhar para isso. Se estivermos dispostos a deixar nossos receios e dúvidas. Se estivermos dispostos a chegar no mais profundo dentro de nós mesmos quando estivermos cansados e voltarmos lutando com tudo!

Esperança! Isso que manteve alguns de nossos pais e avós quando os tempos eram difíceis. O que os levou a dizer, "Talvez eu não possa ir ao colégio, mas se eu juntar um pouco a cada semana meu filho possa; talvez eu não consiga ter o meu próprio negócio, mas se eu trabalhar duro meu filho poderá abrir um só seu". Isso que levou os imigrantes de terras distantes a chegar a estas praias, e contra grandes adversidades esculpir uma nova vida para suas famílias na América; Foi o que levou aqueles que não puderam votar a marchar e organizar-se em defesa da liberdade; O que os levou a clamar "pode parecer escura esta noite, mas se eu mantiver a esperança, amanhã ela será mais clara."

Isso é o que é esta eleição. Essa é a escolha que enfrentamos neste momento. Não acredite nem por um segundo que a eleição está acabada. Não acredite nem por um minuto que os poderosos irão abrir mão do poder. Temos muito trabalho pela frente. Temos de trabalhar como se o nosso futuro dependesse disto nesta última semana, porque depende. Em uma semana, podemos escolher uma economia que premie trabalho e crie novos postos de trabalho e injete prosperidade de baixo para cima.

Em uma semana, poderemos escolher em investir em saúde para as nossas famílias, e em educação para as crianças, em fontes renováveis de energia para o nosso futuro. Em uma semana, podemos escolher esperança sobre o medo, a unidade sobre a divisão, a promessa de mudar o poder do status quo. Em uma semana, poderemos chegar juntos como uma nação, e um povo, e mais uma vez escolher a nossa melhor história. É isso que está em jogo. É isso pelo qual lutamos. E, se nesta última semana, você bater algumas portas por mim, fizer algumas ligações por mim e falar com os seus vizinhos, e convencer os seus amigos; se vocês se juntarem a mim, lutarem comigo, e me derem seu voto, então prometo isto – que não vamos apenas ganhar Ohio, que não vamos apenas ganhar esta eleição, mas juntos, vamos mudar este país e vamos mudar o mundo.

Muito obrigado, Deus vos abençoe, e que Deus abençoe a América. Vamos trabalhar!"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Visão da Religião


Max Weber (1864-1920) tem uma visão pragmática e funcional da religião, imaginando-a não como um sistema de crenças, mas sim "sistemas de regulamentação da vida que reúnem massas de fiéis", voltando-se para o sentido que o ethos religioso atribui à conduta. Em seus textos Weber visa expor como as religiões geram ou constituem formas de ação e disposições gerais, relacionadas a determinados estilos de vida.

Na análise do protestantismo, por exemplo, vemos essa relação, quando Lutero usa a palavra Beruf tanto pra se referir à vocação religiosa como ao trabalho secular (embora o autor diga que a afinidade do protestantismo com o espírito do capitalismo e do progresso como o entendemos hoje só remonta ao início do séc. XVIII). Assim, o pedreiro passa a servir a Deus construindo casas, o padeiro, fazendo pães, o comerciante, vendendo e comprando. Nessa linha, Deus não solicitava mais imagens ou templos ornados, mas determinada disposição em relação à vida cotidiana, à inserção e ao trabalho no mundo secular; trata-se do ascetismo intramundano, que nos lembra um pouco a filosofia zen budista de procurar estar dentro do mundo (não procurando algo fora dele), praticando sua religiosidade através das ações (mesmo as mais mundanas).

A ética protestante representa uma ruptura em relação à ética católica tradicional. A negação da devoção aos santos e seus milagres, a recusa a certos sacramentos e uma nova perspectiva de relação com o sagrado e com as ascese configuraram uma religiosidade menos ritualista e mágica e mais intelectualizada. O fiel protestante, racional, disciplinado e, fundamentalmente, previsível, é também o operário capitalista, necessariamente previsível e disciplinado. Assim, Weber busca articular o ethos religioso com o ethos econômico no decurso da história. Segundo ele, pra cada formação religiosa há tipos específicos de "comunalização religiosa" e de "autoridade". Dois tipos formulados por Weber são a "igreja" e a "seita". A igreja implica um certo projeto universalista, que a coloca para além de laços tribais, familiares ou étnicos, assim como um corpo sacerdotal profissional, dogmas e cultos fundamentados em escrituras sagradas que se racionalizam e se institucionalizam progressivamente. Já a "seita" diz respeito a tipos de associações voluntárias de fiéis, que se caracterizam por uma certa ruptura com a sociedade mais geral. Os fiéis não seguem "profissionais religiosos", mas autoridades carismáticas. Interessante notar como a Igreja católica entrou num movimento de reafirmação onde está cada vez mais distante da sociedade geral, admoestando os "católicos de fim de semana" e procurando valorizar os dogmas dentro de um núcleo doutrinário, excluindo o aculturamento... Quase uma seita.

A mente dos profetas


O texto de Jung nos mostra que o inconsciente sempre tenta compensar (equilibrar) o conteúdo do consciente, geralmente (mas não necessariamente) com oposições. Quando há um desequilíbrio, causado por uma consciência falha, entra em ação a atividade automática do inconsciente, visando a geração de um novo equilíbrio. Mas Jung aponta que tal meta será alcançada sempre que a consciência for capaz de assimilar os conteúdos produzidos pelo inconsciente, isto é, quando puder compreendê-los e digeri-los. Se o inconsciente dominar a consciência, desenvol-ver-se-á um estado psicótico. No caso de não prevalecer nem processar-se uma compreensão adequada, o resultado será um conflito.

Assim, Jung nos fala que "se os conteúdos do inconsciente chegarem à consciência, como o indivíduo reagirá? Será dominado pelos conteúdos? Aceita-los-á credulamente? Rejeita-los-á? O primeiro caso significa paranóia ou esquizofrenia; o segundo torna o indivíduo um excêntrico, com certo gosto pela profecia, ou então pode fazê-lo retroceder a uma atitude infantil, apartando-se da sociedade humana; o terceiro significa a restauração regressiva da persona". Mas é o segundo caso o que mais nos interessa:

Isto equivale a aceitar a inflação, exaltada agora como um sistema. Em outras palavras, o indivíduo poderia ser o feliz proprietário da grande verdade que o aguardava para ser descoberta, o senhor do conhecimento escatológico para a salvação das nações. Tal atitude não implica necessariamente a megalomania em sua forma direta, mas sim na forma atenuada e mais conhecida do reformador, dos profetas e mártires. As mentes fracas correm o risco de sucumbir a esta tentação, uma vez que geralmente se caracterizam por uma boa dose de ambição, amor-próprio e ingenuidade descabida. Abrir a passagem da psique coletiva significa uma renovação de vida para o indivíduo, quer seja agradável ou desagradável. Todos querem agarrar-se a esta renovação: uns, porque assim aumentam sua sensação de vida, outros porque vêem nisso a promessa de um maior conhecimento, ou então esperam descobrir a chave que transformará suas vidas. No entanto, os que não quiserem renunciar aos grandes Lições sobre psicologia fala de um "tesouro enterrado no campo das representações obscuras, tesouro que jaz nos abismos profundos do conhecimento humano e que não podemos alcançar". Para Jung esse tesouro é a soma das imagens primordiais, nas quais a libido está investida, ou melhor, que constituem sua auto-representação.');" onmouseout="nd();">tesouros enterrados na psique coletiva deverão lutar, de um modo ou de outro, a fim de manter a ligação recém-descoberta com os fundamentos originários da vida. A identificação parece ser o caminho mais curto, pois a dissolução da persona na psique coletiva é um convite direto para as bodas com o abismo, apagando-se toda memória nesse abraço. Este traço de misticismo é característico dos melhores indivíduos e é tão inato em cada qual como a "nostalgia da mãe", nostalgia da fonte da qual proviemos.

Não pretendo negar, em geral, a existência de profetas autênticos mas, por cautela, começarei duvidando em cada caso individual; o assunto é sério demais para que se aceite, levianamente, alguém como um verdadeiro profeta. Se for este o caso, ele mesmo lutará contra toda pretensão inconsciente a esse papel. Portanto, se num abrir e fechar de olhos aparecer um profeta, seria melhor pensarmos num possível desequilíbrio psíquico.

Mas além da possibilidade de converter-se em profeta, há outra alegria sedutora, mais sutil e aparentemente mais legítima: a alegria de ser o discípulo de um profeta. Esta técnica é ideal para a maioria das pessoas. Suas vantagens são: o odium dignitatis, isto é, o da responsabilidade sobre-humana do profeta, que é substituído pelo otium indignitatis, que é muito mais suave. O discípulo é indigno; senta-se modestamente aos pés do "Mestre" e se protege contra os próprios pensamentos. A preguiça mental torna-se uma virtude; pelo menos, é possível aquecer-se ao sol de um ser semidivino. Pode desfrutar do arcaísmo e infantilismo de suas fantasias inconscientes sem esforço algum, pois toda a responsabilidade é deixada ao Mestre. Através da divinização do Mestre, o discípulo se exalta, aparentemente sem que o perceba. Além disso, não possui a grande verdade (que, naturalmente, não foi descoberta por ele), recebida diretamente das mãos do Mestre? É óbvio que os discípulos sempre se unem com solidariedade, não por laços afetivos, mas com o propósito de confirmar suas próprias convicções, sem esforço, engendrando uma atmosfera de unanimidade coletiva.

Há, porém, uma forma de identificação com a psique coletiva, que parece muito mais recomendável; alguém tem a honra de ser um profeta, assumindo desse modo uma perigosa responsabilidade. Outro indivíduo, por seu lado, é um simples discípulo, administrador do grande tesouro que o Mestre alcançou. Sente toda a dignidade e o peso de uma tal posição e considera uma obrigação solene, ou mesmo uma necessidade moral, denegrir todos os que pensem diferentemente; sua preocupação é fazer prosélitos e iluminar a humanidade, tal como se ele mesmo fosse o profeta. São estas as pessoas que, se ocultando atrás de uma persona aparentemente modesta, irrompem de repente na cena do mundo, inflacionadas pela identificação com o inconsciente coletivo. Tal como o profeta, é uma imagem primordial da psique coletiva, o discípulo do profeta também o é.

Em ambos os casos, a inflação provém do inconsciente coletivo e a independência da individualidade é lesada. Mas uma vez que nem todos possuem a força de uma individualidade independente, a fantasia do discípulo é talvez a mais conveniente. As gratificações da inflação decorrente representam, pelo menos, uma pequena compensação pela perda da liberdade espiritual. Nem devemos subestimar o fato de que a vida de um profeta, real ou imaginário, é cheia de tristezas, desapontamentos e privações; assim, pois, o bando de discípulos e a gritaria dos hosanna têm o valor de uma compensação. Tudo isto é humanamente tão compreensível, que quase deveria surpreender-nos se conduzisse a algo mais além.

(Saindo da Matrix)