quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Viva o presente!


"As cenas de nossa vida são como imagens em um mosaico tosco; vistas de perto, não produzem efeitos – devem ser vistas à distância para ser possível discernir sua beleza. Assim, conquistar algo que desejamos significa descobrir quão vazio e inútil este algo é; estamos sempre vivendo na expectativa de coisas melhores, enquanto, ao mesmo tempo, comumente nos arrependemos e desejamos aquilo que pertence ao passado. Aceitamos o presente como algo que é apenas temporário e o consideramos como um meio para atingir nosso objetivo. Deste modo, se olharem para trás no fim de suas vidas, a maior parte das pessoas perceberá que viveram-nas ad interim [provisoriamente]: ficarão surpresas ao descobrir que aquilo que deixaram passar despercebido e sem proveito era precisamente sua vida – isto é, a vida na expectativa da qual passaram todo o seu tempo. Então se pode dizer que o homem, via de regra, é enganado pela esperança até dançar nos braços da morte!"

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sinais


"Contar estrelas, constelações,
Medir nos céus imensidões,
Faz aumentar nossa solidão.
Profetas vêm, prometem mais
Pra quem disser "Amém"
Mas tempos tão globais,
Têm seus poréns, nada virtuais.
Já se escreveu que falsos Messias
Com novas magias vamos ver.
Não há crença sem recompensa,
Nem superstições
Tornam intensas as diferenças,
incompreensões.
Jerusalém sofreu demais
Cometas de Belém não são celestiais.
Nem faltarão Sete Sinais.
De volta ao templo os vendilhões,
Prá venerar deuses bufões,
Quem desta vez sacrificarão?!
E não vão dizer
Que ninguém sabia da hipocrisia
E seu poder.
Nem ciências, inteligências
Ou loucas ambições,
Nos livraram
De incoerências
Ou imperfeições"

Almir Sater

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O mundo precisa de pessoas...


Que não podem ser compradas;

Que a sua palavra é a sua honra;

Que colocam o caráter acima da riqueza;

Que possuam opiniões e vontades;

Que são maiores que seus empregos;

Que não hesitam em assumir os riscos;

Que não irão perder sua individualidade no meio de uma multidão;

Que serão honestas nas coisas pequenas e nas grandes;

Que não se comprometerão com o que é errado;

Cujas ambições não estão confinadas aos seus desejos egoístas;

Que não irão dizer que fizeram algo "porque todo mundo fez";

Que são verdadeiros com seus amigos que têm boa ou má fama, na adversidade e na prosperidade;

Que não acreditam que a astúcia, malícia e teimosia são as melhores qualidades para se alcançar o sucesso;

Que não tem vergonha ou medo de lutar pela verdade quando ela for impopular;

Que conseguem dizer "não" enfaticamente, apesar do resto do mundo estar dizendo "sim".

terça-feira, 14 de julho de 2009

Felicidade com Poucos Bens


Embora a experiência me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse à natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto à natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal império ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada, sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a própria fonte do seu fervor.


(Antoine de Saint-Exupéry, in ‘Cidadela’)

A Procura do Génio

É triste pensar assim, mas não há dúvida que o Génio dura mais que a Beleza. É por isso que todos nós nos esforçamos tanto por nos cultivar. Na luta selvagem pela existência, queremos ter algo que dure e por isso enchemos as nossas mentes de entulho e factos, na esperança vã de mantermos o nosso estatuto. O homem perfeitamente bem informado, é esse o ideal moderno. E a mente do homem perfeitamente bem informada é uma coisa medonha. É como uma loja de bricabraque, só mamarrachos e pó, todas as coisas cotadas acima do seu valor.

*Oscar Wilde, in “O Retrato de Dorian Gray”

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Aos céticos de plantão


"[Ele] nunca se interrogou acerca do motivo pelo qual precisava falar continuamente sobre [religião], porque esse pensamento a tal ponto se apoderara dele. Nunca percebeu que a 'monotonia da interpretação' traduzia uma fuga diante de si mesmo ou de outra parte de si que ele teria talvez que chamar de 'mística'. Ora, sem reconhecer esse lado de sua personalidade, era-lhe impossível pôr-se em harmonia consigo mesmo.(...) Ele tornou-se vítima do único lado que podia identificar, e é por isso que o considero uma figura trágica: pois era uma grande homem..." - Parafraseando Jung

P. S. Também serve aos religiosos bitolados.

sábado, 27 de junho de 2009

Discurso do homem


Estou preocupado com sua emancipação. Meu falso moralismo mequetrefe é retocado, a cada dia, por uma nova camada de algo um pouco mais subjetivo, mas isso não evita que eu me torne demasiadamente intolerante. Chame isso de machismo, ou qualquer outra definição estéril.
Seu papel é histórico, entenda isso.
Como uma carpa você tenta distorcer a realidade e caminhar contra a correnteza. Todavia, perceba que a borboleta, por mais bela que seja, será sempre uma incurável lagarta.
E isso é o que há de real. Sempre disseram que contra fatos não há argumentos; pois bem, esse pode ser o analogado principal.
Certas inovações mais parecem contravenções, incertas à medida que afetam o meu próprio interesse.
Estou realmente preocupado com essa emancipação. Esse não querer ser, não querer ter.
Você, mulher, é e sempre terá consigo a mazela da escolha divina.
O pecado sempre foi feminino - analise por Eva.
A prostituição é feminina - analise por Maria Madalena.
Meu aval é histórico.
A mulher fora punida com a necessidade da maternidade. O homem, abençoado pelo descompromisso da criação.

sábado, 20 de junho de 2009

Mirror


O autoconhecimento de cada indivíduo, a volta do ser humano às suas origens, ao seu próprio ser e à sua verdade individual e social, eis o começo da cura da cegueira que domina o mundo de hoje.

(Jung, Psicologia do Inconsciente, pág. IX).

Inself


Não há mais deuses que pudéssemos invocar em auxílio. As grandes religiões sofrem no mundo todo de crescente anemia porque os numes prestativos fugiram das matas, rios, montanhas e animais, e os homens-deuses sumiram no submundo, isto é, no inconsciente. E supomos que lá eles levem uma existência ignominiosa entre os restos de nosso passado, enquanto nós continuamos dominados pela grande Déesse Raison que é nossa ilusão dominadora. Com sua ajuda fazemos coisas louváveis: por exemplo, livramos da malária o mundo, difundimos em toda a parte a higiene, com o resultado de que povos subdesenvolvidos aumentem em tal proporção que surgem problemas de alimentação. “Nós vencemos a natureza” é apenas um slogan. A chamada “vitória sobre a natureza” nos subjuga com o fato muito natural da superpopulação e faz com que nossas dificuldades se tornem mais ou menos insuperáveis devido à nossa incapacidade de chegar aos acordos políticos necessários. Faz parte da natureza humana brigar, lutar e tentar uma superioridade sobre os outros. Até que ponto, portanto, “vencemos a natureza”?

(Jung, A Vida Simbólica, vol. I, paragrafos 597-598).

sábado, 23 de maio de 2009

Inércia


Para muitas pessoas, a entrega talvez tenha conotações negativas, como uma desistência, certa letargia, etc. A verdadeira entrega, entretanto, é algo completamente diferente. Não significa suportar passivamente uma situação qualquer que nos aconteça e não fazer nada a respeito, nem deixar de fazer planos ou de ter confiança para começar algo novo. A entrega é a sabedoria simples mas profunda de nos submetermos e não de nos opormos ao fluxo da vida. O único lugar em que podemos sentir o fluxo da vida é no Agora. Isso significa que se entregar é aceitar o momento presente sem restrições e sem nenhuma reserva. É abandonar a resistência interior àquilo que é. A resistência interior acontece quando dizemos "não" para aquilo que é, através do nosso julgamento mental e de uma negatividade emocional. Isso se agrava especialmente quando as coisas "vão mal", o que significa que há um espaço entre as exigências ou expectativas rígidas da nossa mente a aquilo que é. Isso não quer dizer que não possamos fazer alguma coisa no campo exterior para mudar a situação. Na verdade, não é a situação completa que temos de aceitar quando falo de entrega, mas apenas o segmento minúsculo chamado o Agora.

No estado de entrega, você vê claramente o que precisa ser feito e parte para a ação, fazendo uma coisa de cada vez e se concentrando em uma coisa de cada vez. Aprenda com a natureza. Veja como todas as coisas se realizam e como o milagre da vida se desenrola sem insatisfação ou infelicidade. É por isso que Jesus disse: "Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam".

Não se entregar endurece a casca do ego, e assim cria uma forte sensação de separação. O mundo e as pessoas à sua volta passam a ser vistos como ameaças. Surge uma compulsão inconsciente para destruir os outros através do julgamento e uma necessidade de competir e dominar. Até mesmo a natureza vira sua inimiga e o medo passa a governar a sua percepção e a interpretação das coisas. A doença mental conhecida como paranóia é apenas uma forma ligeiramente mais aguda desse estado normal, embora disfuncional, da consciência.




quarta-feira, 20 de maio de 2009

Parakletos


A era cristã promoveu uma ética de perfeição em sua ênfase sobre a figura de Jesus Cristo, mas uma era genuinamente nova ou vindoura estará, para Jung, baseada sobre uma ética da totalidade, cujo foco não será Jesus, mas o Espírito Santo: "O Espírito Santo é uma reconciliação de opostos, e daí a resposta ao sofrimento no Ente Supremo que Cristo personifica". Uma Nova Era do Espírito, de acordo com Jung, apresentará não a segunda vinda de um Cristo humano, mas "a revelação do Espírito Santo a partir do próprio homem". A Era Vindoura não destruirá o Cristianismo, substituindo-o com paganismo, mas transcenderá o Cristianismo histórico substituindo a imitação de Cristo pela experiência direta e vivente do Espírito Santo. O próprio Cristo insinuou (João 16:7-13) que o Espírito Santo ou Confortador viria depois dele, não apenas para derramar as línguas do Pentecostes sobre seus discípulos, mas para impregnar toda a humanidade com o "espírito da verdade". Para Jung, portanto, uma compreensão correta da totalidade é essencial não apenas para nossa saúde psicológica pessoal, nosso bem-estar moral e ético, e nosso senso humano de sentido da vida, mas é o padrão pelo qual participamos na auto-evolução do divino. É por isto que Jung insiste através de seus escritos que nós devemos manter a tensão entre os opostos e nos movermos adiante; não devemos relaxar a tensão de modo que os opostos percam sua definição e retornem ao uroboros primevo (a tal sopa primordial): "Sem oposição não há fluxo de energia, não há vitalidade. A falta de oposição leva a vida a uma estagnação aonde quer que tal falta alcance". Jung não era um guru da Nova Era que pregava profundo relaxamento e a dissolução do estresse, mas pelo contrário, ele implorava aos outros para permanecerem conscientes de divisões, fortalecer isso, e manter os opostos em relação dinâmica. Somente então poderá a "função transcendente", que em metapsicologia junguiana seria o Confortador ou Paracleto, vir em nosso auxílio e tornar suportável a carga que estamos carregando.


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Restos


"As verdades são os esqueletos que sobram depois que a capacidade de despertar os sentidos – de provocar arrepios – é desgastada pela familiaridade e pelo uso prolongado. Depois de retiradas as escamas das asas de uma borboleta, tem-se a transparência, mas não a beleza – a estrutura formal sem o conteúdo sensorial. Depois de desgastado o frescor da metáfora, temos a linguagem clara, literal, transparente – o tipo de linguagem atribuído não a nenhuma pessoa em particular, mas ao “senso comum”, à “razão” ou à “intuição”: idéias tão claras e distintas que é possível enxergar através delas. Por isso, se suas metáforas, como as de Euclides, Newton ou J. S. Mill, forem socialmente úteis e literalizadas, você será honrado no plano abstrato e esquecido no particular. Terá se tornado um nome, mas deixado de ser uma pessoa. Entretanto, se, como Catulo, Baudelaire, Derrida e Nabokov, seus textos produzirem (apenas ou também) arrepios, você terá uma chance de sobreviver como mais do que um nome. Talvez venha a ser, como Landor e Donne, uma das pessoas com quem um futuro Yeats esperará cear ao fim do dia.”

(Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, p.253)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Semi ótica


"Vocês é que se equivocam em relação a mim, achando que eu não tenho ou não posso ter outra realidade afora esta que vocês me dão, a qual é apenas sua, acreditem; uma idéia sua, aquela que fizeram de mim, uma possibilidade de ser tal como vocês a percebem, como lhes parece, como reconhecem possível em vocês- já que, sobre aquilo que eu possa ser para mim, não só vocês não podem saber nada, mas tampouco eu mesmo".

Luigi Pirandello

sábado, 2 de maio de 2009

Inside


Me pergunto agora como devo interpretar as coisas. Palavras, gestos, entonações. Me pego repensando um assunto antigo. Hoje eu sou C de confusão. Porque gostaria de saber todas as respostas pras perguntas que me faço sobre um certo incidente, mas não encontro respostas. Pudera, "a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros". Se eu soubesse o que se passa dentro dos outros a vida seria infinitamente mais fácil.

Se eu soubesse o que se passa dentro dos outros, mudaria o que acontece dentro de mim? E o que exatamente acontece dentro de mim? Essa virou a grande questão dos últimos dias.

sábado, 4 de abril de 2009

Castelo de areia


"Tenho visto as pessoas tornarem-se freqüentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes sua neurose costuma desaparece"

Carl Gustav Jung

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

No controle


"Qual é meu problema?
Esse é meu problema...
Meu problema é que eu sou muito visual para ser cega,
Também auditiva lógica para ser surda,
Muito ideológica para estar em paz,
Muito compassiva para estar na guerra,
Muito louca para estar sã,
Muito sã para estar com preguiça,
Muito emocional para ser você.

Se eu pudesse ao menos parar minha cabeça de entrar em constante
infecção,
Então talvez eu poderia nadar atrás da minha própria versão de sanidade consistente.
Demônios angelicais, sonhos líquidos, montanhas transparentes, da nossa própria
realidade.

Oceanos ardentes, derretendo faces, derretendo faces, por que?
Quadros mentirosos, gritando metal, em meu controle...

Amnésia, histeria, insônia, canutações constantes até que você entre
no hospital e vire uma porcaria de um morto
Talvez minha mente tenha tudo sob controle,
Talvez eu não esteja em controle..."

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Simple Man



Discurso de posse de Obama

"Sim, o governo deve liderar o caminho da independência energética, mas cada um de nós deve fazer nossa parte para tornar as nossas casas e as nossas empresas mais eficientes. Sim, temos de dar mais chances de êxito aos jovens que caiam na vida do crime e desespero. Mas todos nós temos de fazer nossa parte como pais, para desligar a TV e ler para nossos filhos e sermos responsáveis pelo fornecimento de amor e da orientação que necessitam.

Sim, podemos discutir e debater as nossas posições apaixonadamente, mas neste momento de definição, todos nós devemos convocar a força e a graça para superar as nossas diferenças e unir esforços comuns – preto, branco, Latino, asiáticos, Nativo Americano; democrata e republicano, jovens e velhos, ricos e pobres, gays e heteros, deficientes ou não. Todos nós temos de nos juntar.

Ohio, nesta eleição não podemos permitir os mesmos jogos políticos e táticas que são utilizadas pra colocar um contra o outro e fazer nós termos medo um do outro. O desafio é demasiado elevado para nos dividir em classes e regiões e antecedentes; pelo que nós somos ou pelo que acreditamos. Porque, apesar do que os nossos adversários possam dizer, não há partes verdadeiras ou falsas neste país. Não há qualquer cidade ou região que seja mais pro-América do que em qualquer outro lugar – somos uma nação, todos nós orgulhosos, todos nós patriotas.

Existem aqueles patriotas que apoiaram a guerra no Iraque e patriotas que se opuseram à mesma; patriotas que acreditam em políticas democráticas e aqueles que acreditam em políticas republicanas. Os homens e mulheres que servem em nossos campos de batalha, alguns podem ser democratas, republicanos e Independentes, mas eles lutaram juntos e sangraram juntos, e alguns morreram juntos sob a mesma e orgulhosa bandeira. Eles não serviram a uma América vermelha ou América azul - eles serviram aos Estados Unidos da América.

Não vai ser fácil, Ohio. Nem vai ser rápido. Mas vocês e eu sabemos que é tempo para se unir e mudar este país. Alguns dos senhores podem ser cínicos e irritados com a política. Muitos de vocês podem estar desapontados e mesmo furiosos com seus líderes. Vocês têm todo o direito de estar. Mas, apesar de tudo isto, eu lhes peço o que foi pedido aos americanos em toda a nossa história. Peço a todos que acreditem – não apenas nas minhas habilidades de trazer mudanças, mas na sua habilidade. Eu sei que é possível uma mudança. Porque eu a tenho visto nos últimos 21 meses. Porque na campanha tenho tido o privilégio de testemunhar o melhor da América.

Eu a tenho visto nas filas de eleitores em torno das escolas e igrejas; nos jovens que lançam seu voto pela primeira vez, e os não tão jovens que se envolveram novamente após um longo tempo. Tenho visto nos trabalhadores que preferem a redução das suas horas a ver os seus amigos perderem o emprego; Vejo nos vizinhos que abrigam um estranho quando as inundações chegam; Nos soldados que se realistam após perderem um membro. Eu tenho visto no rosto dos homens e mulheres que eu tenho encontrado em inúmeros comícios e câmaras municipais em todo o país, homens e mulheres que falam de suas lutas mas também das suas esperanças e sonhos.

Ainda me lembro do email que uma mulher chamada Robyn me enviou depois de encontrá-la em Fort Lauderdale, Florida. Alguns dias depois do evento seu filho quase entrou na parada cardíaca, e foi diagnosticado com um problema de coração que só poderia ser tratado com um procedimento que custa dezenas de milhares de dólares. A companhia de seguros se recusou a pagar, e sua família simplesmente não têm esse tanto de dinheiro.

Em seu email, Robyn escreveu,"Só peço isto de você – nos dias em que se sinta tão cansado que não pode nem pensar em dizer uma palavra para o povo, pense em nós. Quando todos aqueles que se opõem a você o deixarem pra baixo, alcance seu mais profundo e volte com tudo".

Ohio, é isso que é Esperança – a coisa interior que insiste, apesar de todos os elementos que provem o contrário, que algo melhor está à espera na próxima curva; que insiste que existem dias melhores à frente. Se estivermos dispostos a trabalhar para isso. Se estivermos dispostos a deixar nossos receios e dúvidas. Se estivermos dispostos a chegar no mais profundo dentro de nós mesmos quando estivermos cansados e voltarmos lutando com tudo!

Esperança! Isso que manteve alguns de nossos pais e avós quando os tempos eram difíceis. O que os levou a dizer, "Talvez eu não possa ir ao colégio, mas se eu juntar um pouco a cada semana meu filho possa; talvez eu não consiga ter o meu próprio negócio, mas se eu trabalhar duro meu filho poderá abrir um só seu". Isso que levou os imigrantes de terras distantes a chegar a estas praias, e contra grandes adversidades esculpir uma nova vida para suas famílias na América; Foi o que levou aqueles que não puderam votar a marchar e organizar-se em defesa da liberdade; O que os levou a clamar "pode parecer escura esta noite, mas se eu mantiver a esperança, amanhã ela será mais clara."

Isso é o que é esta eleição. Essa é a escolha que enfrentamos neste momento. Não acredite nem por um segundo que a eleição está acabada. Não acredite nem por um minuto que os poderosos irão abrir mão do poder. Temos muito trabalho pela frente. Temos de trabalhar como se o nosso futuro dependesse disto nesta última semana, porque depende. Em uma semana, podemos escolher uma economia que premie trabalho e crie novos postos de trabalho e injete prosperidade de baixo para cima.

Em uma semana, poderemos escolher em investir em saúde para as nossas famílias, e em educação para as crianças, em fontes renováveis de energia para o nosso futuro. Em uma semana, podemos escolher esperança sobre o medo, a unidade sobre a divisão, a promessa de mudar o poder do status quo. Em uma semana, poderemos chegar juntos como uma nação, e um povo, e mais uma vez escolher a nossa melhor história. É isso que está em jogo. É isso pelo qual lutamos. E, se nesta última semana, você bater algumas portas por mim, fizer algumas ligações por mim e falar com os seus vizinhos, e convencer os seus amigos; se vocês se juntarem a mim, lutarem comigo, e me derem seu voto, então prometo isto – que não vamos apenas ganhar Ohio, que não vamos apenas ganhar esta eleição, mas juntos, vamos mudar este país e vamos mudar o mundo.

Muito obrigado, Deus vos abençoe, e que Deus abençoe a América. Vamos trabalhar!"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Visão da Religião


Max Weber (1864-1920) tem uma visão pragmática e funcional da religião, imaginando-a não como um sistema de crenças, mas sim "sistemas de regulamentação da vida que reúnem massas de fiéis", voltando-se para o sentido que o ethos religioso atribui à conduta. Em seus textos Weber visa expor como as religiões geram ou constituem formas de ação e disposições gerais, relacionadas a determinados estilos de vida.

Na análise do protestantismo, por exemplo, vemos essa relação, quando Lutero usa a palavra Beruf tanto pra se referir à vocação religiosa como ao trabalho secular (embora o autor diga que a afinidade do protestantismo com o espírito do capitalismo e do progresso como o entendemos hoje só remonta ao início do séc. XVIII). Assim, o pedreiro passa a servir a Deus construindo casas, o padeiro, fazendo pães, o comerciante, vendendo e comprando. Nessa linha, Deus não solicitava mais imagens ou templos ornados, mas determinada disposição em relação à vida cotidiana, à inserção e ao trabalho no mundo secular; trata-se do ascetismo intramundano, que nos lembra um pouco a filosofia zen budista de procurar estar dentro do mundo (não procurando algo fora dele), praticando sua religiosidade através das ações (mesmo as mais mundanas).

A ética protestante representa uma ruptura em relação à ética católica tradicional. A negação da devoção aos santos e seus milagres, a recusa a certos sacramentos e uma nova perspectiva de relação com o sagrado e com as ascese configuraram uma religiosidade menos ritualista e mágica e mais intelectualizada. O fiel protestante, racional, disciplinado e, fundamentalmente, previsível, é também o operário capitalista, necessariamente previsível e disciplinado. Assim, Weber busca articular o ethos religioso com o ethos econômico no decurso da história. Segundo ele, pra cada formação religiosa há tipos específicos de "comunalização religiosa" e de "autoridade". Dois tipos formulados por Weber são a "igreja" e a "seita". A igreja implica um certo projeto universalista, que a coloca para além de laços tribais, familiares ou étnicos, assim como um corpo sacerdotal profissional, dogmas e cultos fundamentados em escrituras sagradas que se racionalizam e se institucionalizam progressivamente. Já a "seita" diz respeito a tipos de associações voluntárias de fiéis, que se caracterizam por uma certa ruptura com a sociedade mais geral. Os fiéis não seguem "profissionais religiosos", mas autoridades carismáticas. Interessante notar como a Igreja católica entrou num movimento de reafirmação onde está cada vez mais distante da sociedade geral, admoestando os "católicos de fim de semana" e procurando valorizar os dogmas dentro de um núcleo doutrinário, excluindo o aculturamento... Quase uma seita.

A mente dos profetas


O texto de Jung nos mostra que o inconsciente sempre tenta compensar (equilibrar) o conteúdo do consciente, geralmente (mas não necessariamente) com oposições. Quando há um desequilíbrio, causado por uma consciência falha, entra em ação a atividade automática do inconsciente, visando a geração de um novo equilíbrio. Mas Jung aponta que tal meta será alcançada sempre que a consciência for capaz de assimilar os conteúdos produzidos pelo inconsciente, isto é, quando puder compreendê-los e digeri-los. Se o inconsciente dominar a consciência, desenvol-ver-se-á um estado psicótico. No caso de não prevalecer nem processar-se uma compreensão adequada, o resultado será um conflito.

Assim, Jung nos fala que "se os conteúdos do inconsciente chegarem à consciência, como o indivíduo reagirá? Será dominado pelos conteúdos? Aceita-los-á credulamente? Rejeita-los-á? O primeiro caso significa paranóia ou esquizofrenia; o segundo torna o indivíduo um excêntrico, com certo gosto pela profecia, ou então pode fazê-lo retroceder a uma atitude infantil, apartando-se da sociedade humana; o terceiro significa a restauração regressiva da persona". Mas é o segundo caso o que mais nos interessa:

Isto equivale a aceitar a inflação, exaltada agora como um sistema. Em outras palavras, o indivíduo poderia ser o feliz proprietário da grande verdade que o aguardava para ser descoberta, o senhor do conhecimento escatológico para a salvação das nações. Tal atitude não implica necessariamente a megalomania em sua forma direta, mas sim na forma atenuada e mais conhecida do reformador, dos profetas e mártires. As mentes fracas correm o risco de sucumbir a esta tentação, uma vez que geralmente se caracterizam por uma boa dose de ambição, amor-próprio e ingenuidade descabida. Abrir a passagem da psique coletiva significa uma renovação de vida para o indivíduo, quer seja agradável ou desagradável. Todos querem agarrar-se a esta renovação: uns, porque assim aumentam sua sensação de vida, outros porque vêem nisso a promessa de um maior conhecimento, ou então esperam descobrir a chave que transformará suas vidas. No entanto, os que não quiserem renunciar aos grandes Lições sobre psicologia fala de um "tesouro enterrado no campo das representações obscuras, tesouro que jaz nos abismos profundos do conhecimento humano e que não podemos alcançar". Para Jung esse tesouro é a soma das imagens primordiais, nas quais a libido está investida, ou melhor, que constituem sua auto-representação.');" onmouseout="nd();">tesouros enterrados na psique coletiva deverão lutar, de um modo ou de outro, a fim de manter a ligação recém-descoberta com os fundamentos originários da vida. A identificação parece ser o caminho mais curto, pois a dissolução da persona na psique coletiva é um convite direto para as bodas com o abismo, apagando-se toda memória nesse abraço. Este traço de misticismo é característico dos melhores indivíduos e é tão inato em cada qual como a "nostalgia da mãe", nostalgia da fonte da qual proviemos.

Não pretendo negar, em geral, a existência de profetas autênticos mas, por cautela, começarei duvidando em cada caso individual; o assunto é sério demais para que se aceite, levianamente, alguém como um verdadeiro profeta. Se for este o caso, ele mesmo lutará contra toda pretensão inconsciente a esse papel. Portanto, se num abrir e fechar de olhos aparecer um profeta, seria melhor pensarmos num possível desequilíbrio psíquico.

Mas além da possibilidade de converter-se em profeta, há outra alegria sedutora, mais sutil e aparentemente mais legítima: a alegria de ser o discípulo de um profeta. Esta técnica é ideal para a maioria das pessoas. Suas vantagens são: o odium dignitatis, isto é, o da responsabilidade sobre-humana do profeta, que é substituído pelo otium indignitatis, que é muito mais suave. O discípulo é indigno; senta-se modestamente aos pés do "Mestre" e se protege contra os próprios pensamentos. A preguiça mental torna-se uma virtude; pelo menos, é possível aquecer-se ao sol de um ser semidivino. Pode desfrutar do arcaísmo e infantilismo de suas fantasias inconscientes sem esforço algum, pois toda a responsabilidade é deixada ao Mestre. Através da divinização do Mestre, o discípulo se exalta, aparentemente sem que o perceba. Além disso, não possui a grande verdade (que, naturalmente, não foi descoberta por ele), recebida diretamente das mãos do Mestre? É óbvio que os discípulos sempre se unem com solidariedade, não por laços afetivos, mas com o propósito de confirmar suas próprias convicções, sem esforço, engendrando uma atmosfera de unanimidade coletiva.

Há, porém, uma forma de identificação com a psique coletiva, que parece muito mais recomendável; alguém tem a honra de ser um profeta, assumindo desse modo uma perigosa responsabilidade. Outro indivíduo, por seu lado, é um simples discípulo, administrador do grande tesouro que o Mestre alcançou. Sente toda a dignidade e o peso de uma tal posição e considera uma obrigação solene, ou mesmo uma necessidade moral, denegrir todos os que pensem diferentemente; sua preocupação é fazer prosélitos e iluminar a humanidade, tal como se ele mesmo fosse o profeta. São estas as pessoas que, se ocultando atrás de uma persona aparentemente modesta, irrompem de repente na cena do mundo, inflacionadas pela identificação com o inconsciente coletivo. Tal como o profeta, é uma imagem primordial da psique coletiva, o discípulo do profeta também o é.

Em ambos os casos, a inflação provém do inconsciente coletivo e a independência da individualidade é lesada. Mas uma vez que nem todos possuem a força de uma individualidade independente, a fantasia do discípulo é talvez a mais conveniente. As gratificações da inflação decorrente representam, pelo menos, uma pequena compensação pela perda da liberdade espiritual. Nem devemos subestimar o fato de que a vida de um profeta, real ou imaginário, é cheia de tristezas, desapontamentos e privações; assim, pois, o bando de discípulos e a gritaria dos hosanna têm o valor de uma compensação. Tudo isto é humanamente tão compreensível, que quase deveria surpreender-nos se conduzisse a algo mais além.

(Saindo da Matrix)