quarta-feira, 20 de junho de 2007

Sem barganhas.


Enquanto agonizava, morrendo lentamente de tuberculose aos 24 anos de idade, Teresa de Lisieux, uma das servas mais excelentes e doces do Senhor, ansiou por Deus de todo o seu coração. Em meio à aflição de sua noite escura, ela clamou:


E agora, de súbito, a névoa ao meu redor tornou-se mais densa
do que nunca, penetrando profundamente em minha alma e envolvendo-a por
inteiro... tudo o mais desapareceu.
Estou cansada das trevas que me cercam... ouço vozes de escárnio: "É tudo um sonho, essa conversa de um país celestial, banhado em luz, perfumado com fragrâncias deliciosas e de um Deus que criou tudo isso, que deve ser sua herança por toda a eternidade. Você crê mesmo que a névoa ao seu redor se dissipará mais adiante? Então continue desejando a morte! Mas a morte torna suas esperanças absurdas, e não será outra coisa senão uma noite mais escura do que nunca, a noite da mera não existência".

Teresa havia descoberto seu anseio por Deus como poucos fazem. Será que ela também descobriu 0 anseio de Deus por ela? E quanto a você? E quanto a mim?

Certamente ela o encontrou, pois naquele momento esteve mais próxima do que nunca de uma disposição de não fazer nenhuma exigência, de sacrificar tudo que lhe era mais precioso em troca do privilégio de descansar na presença do Pai.





Na manhã de sua morte Teresa sussurrou: “eu não me arrependo de me ter abandonado ao amor”.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Entrega e confiança.


Nos longos meses que passou na prisão João da Cruz adquiriu uma consciência preciosa do quanto desejava sentir a presença de Deus. Seus colegas o traíram, seu ministério havia sido arruinado e ele se encontrava confinado num calabouço desumano. Das profundezas de sua alma, onde só a dor pode chegar, ele clamou:

Onde te escondeste,
Amado, e me deixaste a gemer?
Como um cervo
fugiste
tendo me ferido;
Saí à tua procura e havias partido.

No entanto, sua noite escura de anseio insaciado por Deus tornou-se a ocasião para uma visita de Cristo. João descreveu seu encontro com o divino em palavras que nos deixam ao mesmo tempo desconcertados e anelantes.

Chama, viva, constrangedora
e, não obstante, de indescritível ternura
que alcança o cerne recôndito de minha alma!


Queimadura para me curar!
Ferida de prazer, os sentidos meus a superar!
Ah, carícia é o toque de tua suave mão
Do céu o antegosto transmitindo
e toda e qualquer dúvida remindo;
ao me abater, me dás a vida em troca da morte que causa aflição.


Ó lamparinas, com sua chama queimando
que com brilho reluzente, vão transformando
a caverna profunda de minha alma em luz irradiante!
Outrora repleta de sombras, obscura e ignorante,
agora com resplendor novo e incandescente
dá-me calor e refulgência que enche meu Amor de delite.


Ah, com ternura e sempre a amar
despertas dentro de mim, para provar
que aí estás sozinho e secretamente;
tua respiração fragrante me aquieta,
de tua graça e de tua glória minha alma deixa repleta
teu amor se torma meu tão carinhosamente.