quarta-feira, 9 de maio de 2012

Novo fim




“nós precisamos, para um novo fim, também de um novo meio, ou seja, de uma nova saúde, de uma saúde mais forte, mais engenhosa, mais tenaz, mais temerária, mais alegre, do que todas as saúdes que houve até agora. [...] de uma saúde tal, que não somente se tem, mas que também constantemente se conquista ainda, e se tem de conquistar, porque sempre se abre mão dela outra vez, e se tem de abrir mão!... E agora, depois de por muito tempo estarmos a caminho dessa forma, nós, argonautas do ideal, mais corajosos talvez do que prudentes, e muitas vezes naufragados e danificados, mas, como foi dito, mais sadios do que gostariam de nos permitir,  perigosamente sadios, sempre sadios outra vez”


(Nietzsche)


Primeiro Interlúdio





Sentenças geram nosso mundo real.
Só é possível viver o que nossa linguagem pode traduzir, aludir, definir...
Realidade construída com palavras,
Como se não houvesse vida
Antes do primeiro fonema.

Letras que engendram morte e vida, guerra e paz, alegria e tristeza, amor e ódio...
O ser humano prisioneiro do próprio discurso,
Das próprias dicotomias maniqueístas que elaborou,
Ao longo dos séculos, engenhosamente, lentamente, pacientemente, na mente...

Instrumento ambíguo que salva e destrói:
Linguagem, só linguagem, nada mais...
Mas cremos numa realidade gramatical com a fé simples das crianças,
E tomamos nosso mundo de palavras como onipotente, onipresente...

Raça que julga o discurso capaz
De abarcar qualquer situação,
De explicitar quaisquer sentimentos, sensações, emoções...
Supõe resolver seus pseudo-problemas precisando conceitos e definições.

Homem: refém do som da sua voz, dos seus escritos, das suas verdades, da sua ciência...
São tantas as prisões lingüísticas que se auto-impôs!
Há que silenciar, há que se libertar
Legitimando o não-científico,
Aceitando o inefável,
Reconhecendo o indizível inerente a vida, ao mundo, a tudo, a todos, a nós...

(Ana Paula Ricci in: Realidade Linguística)