(Saramago)
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Ensaio sobre a cegueira
(Saramago)
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Análise do Homem
Na verdade, geralmente quer dizer mais do que isso. Não ser egoísta implica não se fazer o que se quer, desistir de suas próprias vontades em benefício dos que detêm autoridade. “Não seja egoísta”, em última análise, tem a mesma ambigüidade que possui no calvinismo. Além de seu sentido óbvio, quer dizer “não ame a si mesmo”, mas submeta-se a algo mais importante do que você, a um poder exterior ou a sua interiorização, o “dever”. “Não seja egoísta” se transforma em uma das mais poderosas ferramentas ideológicas para suprimir a espontaneidade e o livre desenvolvimento da personalidade. Sob a pressão desse slogan, pede-se à gente todo sacrifício e submissão completa; somente são “desinteressados” os atos que não atendem ao indivíduo, mas a alguém ou a algo a ele estranho.
Esse quadro, devo repetir, é de certa forma unilateral. Assim como ocorre com a doutrina de que não se deve ser egoísta, também há muita propaganda da tese oposta na sociedade moderna: tenha em mente suas vantagens, aja de acordo com o que for melhor para si; fazendo assim você também estará agindo para o maior proveito de todos.
Com efeito, a idéia de que o egoísmo é a base do bem-estar geral constitui o princípio sobre o qual se ergueu a sociedade competitiva. É de estarrecer como dois princípios aparentemente tão contraditórios puderam ser ensinados lado a lado na mesma cultura; quanto ao fato, porém, não há dúvida. Uma conseqüência dessa contradição é a confusão do indivíduo. Dividido entre essas duas doutrinas, ele fica seriamente inibido para integrar sua personalidade. Essa confusão é uma das fontes mais expressivas da perplexidade e atarantamento do homem moderno.
A doutrina de que o amor a si mesmo é idêntico a “egoísmo” e uma alternativa para o amor a outros invadiu a Teologia, a Filosofia e o ideário popular (…) Acodem as seguintes perguntas: (…) será o amor a si próprio o mesmo fenômeno que o egoísmo, ou serão eles opostos entre si? Outrossim, será o egoísmo do homem moderno uma preocupação consigo mesmo como indivíduo com todas as suas potencialidades intelectuais, emocionais e sensuais? Não terá ele se convertido em um apêndice de seu papel sócio-econômico? Será o egoísmo idêntico ao amor-próprio ou não será ele causado pela própria falta deste? (…)
Egoísmo e amor-próprio, longe de serem idênticos, são de fato opostos. A pessoa egoísta não ama a si mesma demasiadamente, mas muito pouco; com efeito, ela se detesta. Essa falta de ternura e desvelo por si mesma, que é apenas uma expressão de sua falta de produtividade, deixa-a oca. Ela forçosamente se sente infeliz e ansiosamente preocupada em agarrar com avidez as satisfações da vida que ela se impede a si mesma de conseguir. Parece inquietar-se por demais consigo, mas na verdade o que faz é tão só uma malograda tentativa de disfarçar e compensar sua deficiência para cuidar de seu verdadeiro eu. Freud alega que a pessoa egoísta é narcisista, como se tivesse retirado seu amor dos outros e o tivesse voltado para a própria pessoa. É fato que os egoístas são incapazes de amar a outros, mas não são tampouco capazes de amar a si mesmos.
ERICH FROMM
Transfiguração
Em alguns momentos cruciais, como na transfiguração, isso se torna claro.
Vejamos, a palavra grega para transfiguração é metamorphoomai, da qual se deriva nossa palavra metamorfose. Denota uma mudança de forma, como, por exemplo, a transformação que ocorre com a borboleta.
O prefixo "trans" significa literalmente "através de". Na transfiguração, um limite ou barreira foi transposta. Podemos chamar de cruzar a linha entre o natural e o sobrenatural, entre o humano e o divino.
A transfiguração cruzou a fronteira das dimensões e entrou na esfera de divino. Na transfiguração, uma luz radiante na figura de Cristo é relatada. Essa luz foi a manivestação visível de que a barreira tinha realmente sido transposta.
Existem algumas similaridades entre esta manifestação de glória e brilho. As diferenças, contudo, são significativas. Enquanto a glória divina refletiu no rosto de Moisés, no episódio da tábua dos mandamentos, ela resplandeceu de Cristo na transfiguração, evidenciando que a fonte era Dele.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
E eu estou aqui
"você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida com
muito pouca
fricção de angústia.
eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.
eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o
sono.
você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.
oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.
mas eles
estão lá ...
e eu estou aqui."
(Charles Bukowski)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
todos os dias se muda
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Loucura
Caio Fernando Abreu
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Machado de papel
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
O sonho de Lutero
Achava-se nos umbrais dos tabernáculos eternos.
Interrogou então, sofregamente, o anjo ali de guarda:
- Estão aí os protestantes?
- Não, aqui não se encontra um protestante sequer.
- Que me dizes?! Os protestantes, não alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo?!
- Já lhe disse e repito: não há aqui protestantes.
- Então, será que aqui estejam os católicos-romanos, os membros daquela Igreja que abjurei?
- Tão pouco conhecemos aqui os filhos dessa igreja; não existem aqui romanos.
- Estarão, quem sabe, os partidários de Maomé ou de Buda?
- Não estão, nem uns, nem outros.
Intrigado, indagou então o instituidor da Reforma Protestante:
- Dar-se-á, acaso, que o Céu se encontre desabitado?
- Tal não acontece – tornou serenamente o anjo. – Incontáveis são os habitantes da casa do Pai, ocupando todas as suas múltiplas moradas.
- Dize-me, então, depressa: quem são os que se salvam, e a que igreja pertencem na Terra?
- A todas e a nenhuma – aclarou por fim o guardião da entrada das Celestes Moradas. – Aqui não se cogita de denominações, nem de dogmas. Os que se salvam são os que visitam as viúvas e os órfãos em suas aflições, guardando-se isentos da corrupção do século. Os que se salvam são os que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se dos seus defeitos, renascendo todos os dias para uma vida melhor. Os que se redimem são os que amam o próximo e renunciam ao mundo, com suas fascinações. São os que porfiam, transitando pelo caminho estreito, juncado de espinhos: o caminho do dever. Os que se purificam são os que obedecem à voz da consciência, e não os reclamos do interesse. Os que conquistam a Divina Graça são os que trabalham pela causa da Justiça e da Verdade, que é a Causa de determinadas agremiações com títulos e rótulos religiosos. Os que aspiram à glória de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva. Os que se salvam...
Basta! - Atalhou Lutero. Já compreendo tudo: preciso voltar à Terra e introduzir certa reforma na Reforma.
sábado, 30 de agosto de 2008
Você tem que descobrir o que você ama
Íntegra do discurso de Steve Jobs, o criador da Apple, para os formandos de Stanford
"Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.
Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina. Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: 'Apareceu um garoto. Vocês o querem?' Eles disseram: 'É claro.' Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade.
E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de 6 meses, eu não podia ver valor naquilo. Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria OK. Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes.
Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e porisso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo. Muito do que descobri naquele época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço.
Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variada quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.
Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse. Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para a frente quando eu estavana faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.
De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa - sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.
Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa. Pixar fez o primeiro filme animado por computador, ToyStory, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple. E Lorene e eu temos uma família maravilhosa.
Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama. Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.
Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.
Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de 3 a 6 semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas - que é o código dos médicos para 'preparar para morrer'. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus. Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem. Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas.Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.
O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário. Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid. Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes do Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de The Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras: 'Continue com fome, continue bobo'. Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.
Obrigado."
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Mania de complicar...
Sherlock Holmes e Dr. Watson vão acampar...
Montam a barraca e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir.
Algumas horas depois, Holmes acorda e cutuca seu fiel amigo:
- Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê.
Watson responde:
- Vejo milhares e milhares de estrelas.
Holmes então pergunta:
- E o que isso significa?
Watson pondera por um minuto, depois enumera:
1) Astronomicamente, significa que há milhares e milhares de galáxias e, potencialmente, bilhões de planetas.
2) Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte.
3) Temporalmente, deduzo que são aproximadamente 03h15min pela altura em que se encontra a Estrela Polar.
4) Teologicamente, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes.
5) Meteorologicamente, suspeito que teremos um lindo dia amanhã. Correto?
Holmes fica um minuto em silêncio, então responde:
- Watson, seu imbecil! Significa apenas que alguém roubou nossa barraca!!!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Analogia à 'Eternal Sunshine'
"How happy is the blameless vestal's lot
Como é feliz o destino da inocente virgem
The world forgetting, by the world forgot
Esquecida pelo mundo que ela esqueceu
Eternal sunshine of the spotless mind!
Brilho eterno da mente sem lembrança!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd
Cada prece atendida e cada desejo resignado"
(Eloise To Abelard - Alexander Pope)
Se sente falta daquilo que não conheceu?
Pense!
A virgem é virgem por não ter sido tocada, spotless = imaculada!
Ela portanto não sente falta (digo falta psicológica e não física pois o spotless se refere à mente = mind) do que não conhece, não sente falta do amor pois a mente sendo imaculada ela nunca amou ou foi amada, pois, a mente deixaria de ser imaculada se ela amasse!
Note que esse imaculada não é pejorativo relativo ao sexo e sim simplesmente "não tocada, pura mas por sentimentos".
Daí cito uma frase de Einstein:
"Uma mente que se abre pra uma nova idéia (que aqui se traduz pra sentimento) nunca volta ao seu estado normal (ou seja sentirá falta, abre-se uma lacuna que não se fecha mais!)!"
Quem viveu a vida inteira sem luz elétrica não sente falta pois se acostuma ao que a vida lhe propôs...
Finalizando:
Feliz daquele que nunca amou, pois não viverá o resto da vida sentindo falta de um amor verdadeiro como aqueles que conhecem o amor vão sentir!
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Into The Wild
Cena do filme em que Alex Supertramp dialóga com o velho solitário Ron...
'Ron: - Vou sentir sua falta quando for.
Alex: - Também vou sentir a sua, Ron. Mas engana-se se acha que a alegria de viver advém
principalmente das relações humanas. Deus colocou-a ao nosso redor. Está em tudo.
Está em tudo que possamos experimentar. As pessoas apenas precisam mudar a maneira como olham para essas coisas.
Ron: - Pois é, vou ter isso em mente. Não, eu vou. Vou mesmo.
Mas queria te dizer uma coisa. Do pouco que reuni, sabe, o que me contou da tua família, da tua mãe e do teu pai. E também sei que tem os seus problemas com a igreja.
Mas há um tipo de coisa superior que todos podemos apreciar, e me parece que não se importa que chame isso de "Deus".
Mas, quando você perdoa, ama.
E quando você ama, a luz de Deus brilha em você'.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Navio Afundando...
quinta-feira, 24 de julho de 2008
(In)constância
Resolvi não ser constante
Resolvi ser feliz com a incerteza
Vagueando pelos vazios das idéias
Entre os abismos das assertivas
Decepcionado fiquei com a constância
Constantes sempre estão corretos
Exaustivamente corretos
E para a prova da linha reta de pensamento
Nada melhor do que a imposição dele
As entrelinhas
Entremeadas de inconstância, essas sim
Agradáveis e constantes
Encontram poucos receptores
Criticam o que é rotineiro
Mas, que rotina pior pode haver
Do que aquela que se refere à mente?
Pensamentos cíclicos
Morada da rotina procrastinada
A arte Suprema
Quais são os passos necessários para aprender qualquer arte?
O processo de aprendizado de uma arte pode ser adequadamente dividido em duas partes: uma, o domínio da teoria: a outra, o domínio da prática. Se eu quiser aprender a arte da medicina, devo conhecer os fatos a respeito do corpo humano e de várias doenças. Quando tiver todo esse conhecimento teórico, de modo algum serei competente na arte da medicina. Só me tornarei mestre nessa arte depois de grande prática, até que os resultados de meu conhecimento teórico e os da minha prática acabem por mesclar-se numa só coisa: em minha intuição, essência do domínio de qualquer arte.
Além, entretanto, de aprender a teoria e a prática, há um terceiro fator necessário para que me torne mestre em qualquer arte: o domínio da arte deve ser questão de extrema preocupação; nada deve existir no mundo de mais importante do que essa arte. Isso é verdade quanto à música, à medicina, à carpintaria e quanto ao amor.
Talvez aí esteja a resposta à indagação sobre os motivos pelos quais a gente de nossa cultura tão raramente tenta aprender essa arte, a despeito de seus evidentes fracassos: apesar da profundamente enraizada avidez pelo amor, quase tudo mais é considerado mais importante do que o amor: o sucesso, o prestígio, o dinheiro, o poder. Quase toda a nossa energia é utilizada em aprender como alcançar e esses alvos e quase nenhuma é dedicada a aprender a arte de amar.
Erich Fromm em A Arte de Amar (Ed. Itatiaia)
Desiderata
Vá calmamente, entre o barulho e a pressa, e lembre-se da paz que somente existe no silêncio.
Na medida do possível, e sem se atraiçoar, tenha boas relações com todas as pessoas.
Diga a sua verdade quieta e claramente. Ouça os outros, mesmo os obtusos e ignorantes. Eles também tem uma estória a contar.
Evite as pessoas ruidosas e agressivas. Elas são tormentos para o espírito.
Se você se comparar aos outros você se tornará ora vaidoso, ora amargo, pois há sempre pessoas que lhe são inferiores ou superiores.
Goze tanto as suas realizações quanto os seus sonhos. Mantenha-se interessado naquilo que você faz, por humilde que seja. Aquilo que você faz é algo que você realmente possui, num tempo em que tudo muda sem parar.
Pratique a prudência nos seus assuntos comerciais, pois o mundo está cheio de trapaças. Mas não deixe que isto o faça cego para as virtudes que existem. Muitas pessoas se esforçam por ideais altos. Por toda parte a vida está cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Não finja afeição. E nem seja cínico acerca do amor. A despeito da aridez e do desencanto, ele renasce tão teimosamente quanto a tiririca.
Aceite com elegância o conselho dos anos, deixando graciosamente para trás os prazeres da juventude. Crie força de espírito para proteger-se na desgraça repentina. Não se aflija, porém, com coisas imaginadas. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
Tenha uma disciplina saudável, mas seja gentil para consigo mesmo. Você é um filho do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui. E, quer você saiba disto ou não, o fato é que o universo caminha como deve. Por isto, esteja em paz com Deus, não importa como você pensa que ele é.
A despeito da barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma.
Com todos os seus enganos, labutas e sonhos não realizados, este continua a ser um belo mundo. Cuide-se. Esforce-se por ser feliz...
Rubem Alves
terça-feira, 27 de maio de 2008
Contra-producente
Insistir nas Cruzadas Cristãs contra o mundo pagão, é ainda pior do que pregar o Islã, por exemplo; pois, pregar uma religião em nome de Maomé é coisa humanamente simples de entender, mas fazer a mesma coisa com Jesus é blasfêmia contra o ser de Jesus.
Desse modo, tudo o que Jesus faz e ensina nos evangelhos é o que nos concerne, e, sobretudo, Seu modo de ser, pois, é da observação de Seu modo de ser e andar que se tem, segundo Ele, a chance de em vendo-o, ver-se também o Pai.
Isto, hoje, todavia, é loucura para o Cristianismo e escândalo para os Evangélicos!
[- Caio]
O SENHOR DE SIDARTA, SÓCRATES, FREUD, JÜNG E QUEM QUISER
"Tragédia grega!" — dizemos nós do que é amor impossível ou extremamente doído.
No entanto, justamente por esta razão o sentido de amor apaixonado foi objeto de pânico por parte deles. Estar apaixonado era estar louco; algo a ser evitado a todo custo; pois seria por tal entrega à loucura do amor que a pessoa experimentaria a tragédia; pois, para eles, amor era mais desejo e obsessão de posse do que qualquer outra coisa; apesar de Sócrates e Platão terem ensinado outra coisa.
Muito tempo antes dos gregos fugirem da paixão por estarem apaixonados pelas suas tragédias, houve um homem, chamado Sidarta, que vivia num lindo palácio. Seus pais queriam criá-lo longe das visões trágicas da existência. No entanto, um dia, ao ver pela primeira vez a vida que acontecia fora dos muros do palácio, o jovem Sidarta decidiu que conheceria aquilo de que tentavam poupar sua existência. E o que ele viu foi dor. Muita dor na existência. E nunca mais foi o mesmo. De fato, ofereceu seu ser à tarefa de descobrir um modo de diminuir a dor humana; depois é que alçou vôos mais altos, e percebeu a necessidade de “iluminação”.
No inicio, para ele, a equação era simples: as pessoas sofrem porque desejam; e desejam porque dão supremo valor à sua pessoalidade; assim, quanto mais pessoalidade apaixonada, mas dor haverá; e quanto menos disso houver, menos dor se manifestará na pessoa. Desse modo, o caminho de uma vida com ausência de dor, o que já seria felicidade, seria a via da diminuição da pessoalidade; a qual, só perderia seu poder se fosse derrubada pelas privações auto-impostas: como jejuns, desconfortos, mendicância, exposição às forças da natureza, e a aceitação resignada de todas as coisas. E por essa via Sidarta andou até à exaustão total. Foi apenas depois de muita meditação e conversas com pessoas de outras linhas e buscas, que ele apareceu com o “caminho do meio”, do equilíbrio, da harmonia, da moderação e do autocontrole; porém, sem as polarizações e radicalizações praticadas por ele quando escolheu sua primeira via. Entretanto, nem “o caminho do meio” o salvou do Nirvana, do Absoluto Impessoal, do Mar Eterno; pois, para ele, felicidade absoluta só poderia acontecer com a dissolvência total do ser no todo Existente, o qual, para ele, não era um Ser, mas um Tudo-Nada-Eterno. Daí, para mim, o Budismo não ser uma religião, originalmente falando, mas tão somente uma espécie de Psicologia do Profundo. Os seguidores de Sidarta, assim como os de Jesus, é que fizeram a perversão chegar ao seu clímax: o surgimento de uma religião.
Assim, falando já em Psicologia, dando saltos milenares, chegamos ao modo moderno de sentir o amor, a dor, a culpa, o medo, e outros monstros mais, os quais fazem seus ninhos no coração humano. De fato, seja qual for a linha terapêutica adotada, em suma, a psicologia e a psicanálise existem com a finalidade de ajudar o individuo a compreender de onde procedem suas dores, na esperança de que livre delas como assombrações, a pessoa encontre seu caminho de melhor existir. Não há uma proposta de felicidade na Psicanálise ou na Psicologia, mas há uma declarada esperança de alivio. E, dado ao modo como certos psicoterapeutas se tratam, e trama a ciência da alma que elegeram, pode-se dizer que, em muitos casos, tanto a Psicanálise como a Psicologia, são religiões da “Psique”.
Entretanto, como o século passado foi o século do analgésico e das drogas de alivio da dor, apesar da resistência inicial dos profissionais de linha mais psicologizada quanto à recomendação de medicinas químicas para seus pacientes, com o passar do tempo, e a pressão dos pacientes, quase toda terapia se faz acompanhar de algum alivio químico recomendado por algum psiquiatra.
Assim, seja fugindo da dor pela fuga do amor; seja fugindo da dor pela evasão parcial da realidade ou da pessoalidade; ou seja fugindo da dor tentando fazer as pazes com os monstros interiores; ou mediante o alivio químico, todos nós tentamos fugir da dor.
Ora, do ponto de vista do Evangelho, nenhuma das coisas acima mencionadas carrega o Caminho; mas, no máximo, uma via paliativa; mas que, pela Verdade de Jesus, ainda assim teriam que ser chamadas de vias de evasão da realidade.
O Caminho de Jesus no que se relaciona à dor, a partir do principio de que este mundo é um mundo de dores, já se tratava de algo que era; era algo auto-explicado. Pronto e ponto; sem maiores explicações. Afinal, para Ele, a existência era a explicação. Da mesma forma, Ele trata a constituição do ser humano como pervertida pelo egoísmo, e manda que o “si-mesmo” seja morto e crucificado. Entretanto, tal chamado à morte do “self glorificado” pelas fantasias das construções humanas, não equivalia a uma convocação a nenhum tipo de evasão da realidade, pois, é a Verdade-Realidade, o poder que liberta.
Assim, para Ele, o que teria que morrer era a fantasia. Em Jesus não há truques. Em Jesus não há mágicas, nem nos Seus milagres. É por esta razão que Ele chora diante da morte de um amigo e também ante o futuro de morte que aguardava Jerusalém. Também em Jesus o amor não tem que ser evitado; embora as paixões precisam ser educadas no amor verdadeiro; que é aquele que se dá.
Nele, também, banquetes não são evitados e casamentos devem ser celebrados. E o mais chocante de tudo é que Ele, que manda negar o “si-mesmo”, não tem nada contra o verdadeiro eu; dizendo de si mesmo a toda hora algum tipo de “Eu sou...” Assim, para Ele, é com a morte do “si-mesmo”, que é feito de ilusões, que o eu ressurge limpo e livre pela verdade-realidade.
Para Jesus, quando chega à hora da dor, ela tem que ser enfrentada, não evitada. Ele evita todas as dores desnecessárias, mas quando “é chegada à hora”, Ele mesmo sabe para onde andar. E isso não sem medo, pânico, dor, pavor, suores de sangue... Mas enfrenta... E vai...
E, ao final-eterno-começo, Ele não entrega seu ser ao Nirvana, ao Tudo-Nada, mas ao Pai; e ainda sabe dizer ao que sofria ao lado Dele, que naquele mesmo dia, a pessoalidade seria mais que pessoalidade, mas individuação plena (Paraíso); mostrando até o fim que não é a evasão da pessoalidade ou a fuga do amor ou ainda a compreensão do sentido da dor, o que salva, mas sim a confrontação da realidade, com a coragem de suar de modo não-zen, e de gritar as dores de quem às sente. Porém, em total amor confiante em Deus.
E tudo isto com a paz que Sócrates apenas sonhou em conhecer, e com a leveza que Sidarta na maior iluminação autodissolvente ainda não havia alcançado, e sem crises com o Pai por estar vivendo aquela Hora, como Freud ou Jung.
Aqui o filho freudiano não mata o pai; o pai-deus grego não mata o filho; e o eu não se dissolve como em Sidarta; porém, é o Pai quem dá o Filho; é o Filho quem se dá voluntariamente; e o Pai e o Filho são Um; não um Tudo-Nada.
Em Jesus nada é objeto de fuga, mas de toque transformador. Ele não busca o confronto, mas nunca foge dele. Ele abomina o narcisismo e o engano da luxuria embriagante, embora isso, para Ele, nada tivesse a ver com fato de rir, dançar, gargalhar, e ser bem-humorado, como bem humoradas são muitas de Suas falas e imagens, por vezes irônicas e até sarcásticas.
Sim, Ele não fica “zen” nem na hora de ser traído por quem comia de Sua mesa. Ao contrário, pede “pressa”.
Jesus é a pedra de tropeço para todos e é um golpe mortal no narcisismo de todos os humanos; pois, não se priva de nada e nem de ninguém; não foge da dor, antes vive para curá-la; celebra tanto a festa quanto a morte de um amigo com intensidades próprias; enquanto mandava tomar a cruz e segui-Lo, embora, no caminho com Ele, até a hora da cruz, todo andar foi na direção do que era vivo e humano; e feliz por apenas ser.
Seu modo de amar era diverso em seus aplicativos cotidianos, e variava de pessoa para pessoa, com toda propriedade. Ele ama tanto o “jovem rico” que o confronta até às vísceras; e ama tanto a “Samaritana” que pede dela o que Ele mesmo está louco para dar a ela: água. Ele vai de um “eu tão pouco te condeno”, para um “ai de vós fariseus”, sem dar explicações: a existência como ela é, e o coração que nela se faz sempre mostrar, já são a declaração filosófica.
E Jesus é assim tão diferente de Sidarta, dos gregos, dos Sábios da Alma, e de todos, não só porque Ele era Ele. Mas, sobretudo, em razão de que Ele era também a encarnação do paradoxo. Sim, Ele ensina que se pode ser feliz chorando, que se pode alcançar o inalcançável andando em humildade (sendo sempre ensinável), que se pode ter sede de justiça sem ser infeliz, que pela mansidão se conquistar tudo em verdadeira felicidade, e que até as perseguições injustas devem ser motivo de regozijo pessoal.
Para Ele a questão não estava em lugar nenhum que não fosse o olhar. É pelo modo de ver e interpretar, e é pelo interpretar que é filho do amor que se vincula à certeza de que Quem está Acima e Dentro não é Algo, mas Alguém-Pai —, que o olhar se ilumina; e pela sua luz, toda dor vira riqueza; e toda perda trás ganhos; e toda injustiça trás gloria; e todo abuso se torna um uso divino; e toda morte já não mata mais nada; a não ser a dor que já não dói com amargor.
Somente em Jesus o homem pode ser inteiro para viver Deus por inteiro, sem ter que deixar de ser quem é, sem ter que se dissolver ou evadir-se do real; nem tampouco tem que entender ou achar explicações para nada; pois, para Jesus, não importava quem pecou (Ele não buscou nenhum culpado, pois culpados somos todos), se um cego ou seus pais; o que importava era voltar a ver.
E quando lhe puseram à ponta de um caniço algo que lhe aliviasse a dor, como naquele tempo era uma praxe, Ele não aceitou; pois decidiu viver tudo com toda pessoalidade e lucidez. Por isso perdoa enquanto morre; conversa enquanto geme; dá instruções de amor enquanto agoniza; fala de sede enquanto morre; Experimenta Tudo (Está Consumado); e não vê nenhum problema em ver amor no Pai apesar da dor.
É por esta razão que os outros, por melhores que tenham sido, o por mais honestos e sinceros que tenham sido em suas buscas e esforços, são salvos por Ele. Os outros são humanos buscando luz. Ele é a Luz buscando os humanos. Ou outros eram homens. Ele é o Filho do Homem!
E, como já disse antes, se entendo só um pouquinho da alma de Sidarta e dos demais que mencionei, em qualquer tempo, se tivessem com Ele encontrado, deixariam tudo, e, em silencio, o seguiriam gratos. Afinal, Ele é a busca de todos os homens sinceros!
Mente em Chamas
segunda-feira, 19 de maio de 2008
“O Fator Melquisedeque”
domingo, 11 de maio de 2008
ex nihilo nihil fit
Devido à influência de vários movimentos culturais, o Cristianismo bíblico é vulnerável, porque irracionalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na pópria Bíblia. Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas linhas divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distinguí-las.
Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos. Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente, pois vão além do nosso entendimento.
Encontramos problemas similares no mundo natural, assim como no espiritual - aquele que a Bíblia diz. Sabemos por exemplo que a força da gravidade existe, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. A maioria das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do movimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexos por milênios.
Há muitos mistérios sobre a realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto no absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal para qualquer verdade.
Gordon H. Clark, célebre filósofo, disse certa vez que o chamado paradoxo frequentemente nada mais é do que preguiça mental.
A palavra paradoxo, vem do grego que significa "parecer ou aparentar". São difíceis de entender porque a primeira vista "parecem" contradições, mas quando são sujeitos a um exame minuncioso, pode-se encontrar as soluções.
Uma contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da Não-contradição diz que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamental de todas as leis da lógica.
Ninguém pode entender uma contradição, porque entender contradição é inerentemente incompreensível.
A relação entre mistérios e contradições está no fato de que não entendemos a ambos, porém a Palavra de Deus nos diz que um dia todos os seus mistérios serão revelados, pois no céu há luz para resolvê-los. No entanto, não existe, nem nunca irá existir luz suficiente para resolver uma óbvia contradição.
Em 2 Co 4:3-6 e Jo 14:16-17 e 26 contamos com o auxílio de Deus para não cairmos no erro de ensinar falsas idéias a partir de textos extraídos da própria Bíblia.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Satanismo
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Sonetos - "La Corona"
Tecida em minha humilde e devota tristeza,
Tu que tens, ou melhor, és a própria riqueza,
E mudas o passado imutável, Senhor;
Mas não uma coroa de louros sobre a testa,
Que eu leve como prêmio por meio estro sincero,
Mas a tua, a de espinhos, que me coroe eu quero,
Pois sendo ela de Glória, sempre a florir, não cresta.
Se o fim coroa as obras, coroas nosso fim,
Porque no fim começa nosso eterno repouso;
O fim primeiro e extremo, tu o guardas zeloso,
Com grande sede o espero, para ele ao mundo vim.
Agora que a alma e a voz sobem ao céu, é certo:
A salvação de que a deseja está perto..."
John Donne
domingo, 4 de maio de 2008
Decisão
Verdade In-conveniente ¿
"Siga seu senso comum
Você não pode se esconder
Atrás de um conto de fadas
Para sempre e sempre
Apenas revelando toda a verdade nós podemos descobrir
A alma desse reduto para sempre
Para sempre
Mentes doutrinadas com muita freqüência
Contém pensamentos doentios
E cometem a maioria dos pecados que eles pregam
contra
Não tente me convencer
Com mensagens de Deus
Vocês nos acusam de pecados
Cometidos por vocês mesmos
É fácil condenar sem olhar no espelho
Atrás das cenas abre a realidade.
Silêncio eterno implora por justiça
O perdão não está à venda
E nem a vontade de esquecer
A virgindade foi roubada há muito tempo atrás
E o extintor perdeu sua imunidade
Abuso mórbido de poder no Jardim do Éden
Onde a maçã possui um rosto jovem
Você não pode continuar se escondendo
Atrás de contos de fadas ultrapassados
E continuar lavando suas mãos na inocência"
(Épica - Cry For The Moon)
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Autenticidade
domingo, 13 de abril de 2008
A Cosmologia da Idade Média - o olhar sob o Cristianismo
No século XIV viveu o francês Nicholas Oresme (1320-1382), um brilhante matemático, físico e economista, que apesar de seus trabalhos científicos, é muito mais célebre por ter, em algum momento antes do ano 1355, escrito o livro "Tratado sobre a Origem, Natureza, Lei, e Alterações das Moedas", o primeiro tratado sobre economia que falava sobre a teoria da inflação monetária!
Oresme afirmou que o movimento de um corpo somente poderia ser percebido quando ele alterava sua posição em relação a outro corpo.
Baseado nessa idéia, Oresme apresentou um discurso refutando a velha idéia de que a Terra não podia girar em torno do seu eixo.
Em 1377 Nicholas Oresme publicou o livro "Le Livre du Ciel et du Monde", uma tradução com comentários do livro "De caelo" de Aristoteles. É curioso notar que, esse livro de Oresme possui ilustrações, de autor desconhecido, que mostram as esferas celestes colocadas na sua ordem convencional, com a Lua e Mercúrio mais próximos da Terra e Saturno e as estrelas nas esferas mais elevadas. No entanto, as esferas das ilustrações ai mostradas são concavas para cima, centradas em Deus, em vez de serem mostradas com a forma concava para baixo e centradas na Terra.
O significado do termo "evangélico"
As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia - num sentido bem real - sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. "Evangélico" vem de "evangel", que é o termo grego para "evangelho". Deste modo, os "evangélicos" eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e "seitas". Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.
O "Evangel"
A Reforma era uma coleção de "solas" - esta é a palavra latina para "somente". Eles vibravam ao dizer "Sola Scriptura!", significando, "Somente as Escrituras". A Bíblia era a "única regra para fé e prática" (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos "espertos", mas isso nunca significou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.
O principal ponto de "Sola Scriptura" então, era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.
Como nós ajustamos as coisas hoje?
A questão, é claro, é se "evangélico" hoje significa o que significou há quinhentos anos.
Trocamos nossa rica dieta por um saco de pipocas e estamos mal nutridos. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de "evangélicos" "evangélicos". A Bíblia - nosso único fundamento; Cristo - nossa única esperança; Graça - nosso único evangelho; Fé - nosso único instrumento; a Glória de Deus - nosso único alvo; o Sacerdócio de todos os santos - nosso único ministério. Este evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande.
Extraído do Jornal "Os Puritanos" Ano V - Número 3
sábado, 12 de abril de 2008
O Gênese segundo George Gamow
sexta-feira, 11 de abril de 2008
¿
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Não seja...
"Não sejas excessivamente nada…
Nada em excesso faz bem…
Não sejas excessivamente bom para que não
te enredes em tua própria bondade, e, assim, te corrompas
na presunção de tuas próprias leis de nobreza e misericórdia.
Não sejas excessivamente justo para que a
tua justiça não se torne em perversidade…
Não sejas completamente inclusivo,
pois, assim, perderias o teu caráter.
Não sejas completamente exclusivo,
pois, assim, perderias a tua alma e tornar-te-í-as empedrado…
Não busques nem as alturas e nem os abismos.
Se tu chegares num desses pólos…
que tenhas sido apenas levado pela vida, não por ti mesmo.
Antes, busca o caminho do equilíbrio e a vereda plana.
Todo excesso destrói o ser!"
sexta-feira, 28 de março de 2008
É Proibido Pensar
Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar neste esquema
São sempre variações do mesmo tema
Meras repetições
A extravagância vem de todos os lados
E faz chover profetas apaixonados
Morrendo em pé, rompendo a fé dos cansados
Com suas canções
Estar de bem com vida é muito mais que renascer
Deus já me deu sua palavra
E é por ela que ainda guio o meu viver
Reconstruindo o que Jesus derrubou
Re-costurando o véu que a cruz já rasgou
Ressuscitando a lei, pisando na graça
Negociando com Deus
No show da fé milagre é tão natural
Que até pregar com a mesma voz é normal
Nesse evangeliquez universal
Se apossando dos céus
Estão distante do trono, caçadores de deus
Ao som de um shofar
E mais um ídolo importado dita as regras
Pra nos escravizar.
(João Alexandre)
quarta-feira, 26 de março de 2008
Igreja Neoprimitiva
Há um murmurinho do lado de fora, quando de repente aparece Matias, o apóstolo levita, tocando o seu shofar para que o culto tenha início.
Logo após os cânticos entoados por toda a congregação, cerca de duas mil pessoas, o culto da campanha da prosperidade tinha começado. Era o quinto domingo da campanha que tinha o objetivo de determinar a Deus a restituição daquilo que eles tinham direito.
Mateus, o ex-cobrador de impostos, assume o posto no púlpito. Vale a pena descrever aquele púlpito: cerca de quinze metros de comprimento por dez de largura, no centro um menorah em tamanho gigante, com um piso todo em mármore. E ainda, doze cadeiras com aparência de ouro.
Mateus usa de todas as suas técnicas aprendidas na antiga profissão para persuasão da entrega de ofertas. Benção sobre o que der, mesmo que seja a contragosto, e maldição sobre o que não der, mesmo se não tiver dinheiro. O dinheiro, dizia ele, seria revertido para um novo templo que estava sendo construído em Roma com o dobro de tamanho do atual, que estava localizado em Jerusalém.
Passado tal momento, Tiago passa a palavra para João, o discípulo amado, que estaria pregando naquela noite sobre quebra de maldição e cura interior. Era necessário lembrar ou relembrar aquilo que foi dito contra a sua vida, mesmo antes de se ter consciência, afinal isso estava atrapalhando sua vida no cotidiano.
Começa a oração sobre todos, enquanto levitas entoam uma música, dizia-se música de adoração, no meio dos levitas pode-se ver alguns gentios mas estavam a frente da igreja cantando, consequentemente eram levitas. Alguns judeus haviam questionado se tais gentios haviam se circuncidado para se auto proclamarem judeus levitas, esse tipo de questionamento só trazia dúvidas e confusões dentro da igreja, principalmente com os líderes. Expulsaram os judeus que faziam tais perguntas.
Enquanto pessoas estão recebendo novas unções e imitam animais no meio do templo, um demônio se manifesta, foi difícil perceber se era realmente um demônio. Constatada a possessão demoníaca é feita uma pausa no som. Tomé expulsaria o demônio naquela noite. Todos se sentam, estavam prestes a ouvir uma longa entrevista que começaria naquele momento.
Após todas as perguntas de praxe anotadas cuidadosamente em um pergaminho, que mais tarde serviria de ensinamento a igreja, deixaram a pessoa que estava possuída rosnando no meio do púlpito. Os santos ovacionam aquela cena com grande histeria, enquanto isso Tomé conversa com os demais apóstolos sobre o que estava acontecendo, é repreendido severamente. Volta e expulsa o demônio com alguns chavões bem conhecidos dos que ali congregavam.
Após a pregação e expulsão de demônios, Paulo fala sobre sua última viagem a Roma, tinha ido conversar com o Imperador sobre o novo templo. Novamente ratifica o que foi falado por Mateus, mas agora usando uma nova técnica que tinha aprendido quando ainda era fariseu. Fala sobre as práticas judaizantes que não deviam esquecer, mesmo sendo gentios.
Tiago já ao findar do culto, diz a igreja que naquela noite estava sendo liberada uma nova unção, assim como um novo título, para Pedro, pois havia uma promessa de Jesus sobre a vida dele, não seria mais apóstolo como os outros, mas sim Pai dos Apóstolos, e consequentemente Pai dos pais da igreja. Pedro a partir daquele momento seria o Papa da igreja primitiva.
Nos anúncios finais, Tiago mais uma vez lembra a igreja do seminário de batalha espiritual que estaria sendo ministrado naquela semana, haviam terminada a apostila com a última entrevista feita naquela noite. Seria realmente uma benção, assim como foi aquele culto de domingo, diziam os membros daquela igreja.
Raphael Rap, no blog Rapensando [via Infinita Highway]
sábado, 8 de março de 2008
Sýntonos
terça-feira, 4 de março de 2008
Possibilidade vs. Probabilidade
(Lopes da Costa)
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Ética
Fundamentos da Ética Cristã
Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida individual, a vida da empresa e de nossos semelhantes.
Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências exatas é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos e vivemos.
As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo individual e social. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.
A nossa palavra "ética" vem do grego eqikh, que significa um hábito, costume ou rito. Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de princípios ideais da conduta humana, as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros de uma sociedade.
Ética é o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões.
Alternativas Éticas
Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões...!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.
Éticas Humanísticas
As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-
Hedonismo
Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego |hdonh, "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.
Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.
Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. Freqüentemente somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. A ética natural do homem é o hedonismo. Instintivamente, ele toma decisões e faz escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo que lhe dará maior prazer e felicidade. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas atuais de hedonismo.
O hedonismo não tem muitos defensores modernos, mas podemos mencionar Gustav Fechner, o fundador da psicofísica, com sua interpretação do prazer como princípio psíquico de ação, a qual foi depois desenvolvida por Sigmund Freud como sendo o princípio operativo do nível psicanalítico do inconsciente.
Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da existência humana.
Utilitarismo
Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.
Pessoas influenciadas pelo utilitarismo escolherão soluções simplesmente porque elas funcionam, sem indagar se são corretas ou não. Utilitaristas enfatizam o método em detrimento do conteúdo. Eles querem saber como e não por que.
Talvez um bom exemplo moderno seja o escândalo sexual Clinton/Lewinski. Numa sociedade bastante marcada pelo utilitarismo, como é a americana, é compreensível que as pessoas se dividam quanto a um impeachment do presidente Clinton, visto que sua administração tem produzido excelentes resultados financeiros para o país.
Existencialismo
Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte.
Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.
O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.
Ética Naturalística
Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.
Por incrível que possa parecer, essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.
A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor, a humildade e a piedade.
Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os "inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos (mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neo-nazistas nos muros de São Paulo contra negros, nordestinos e pobres. Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.
Os cristãos entendem que uma ética baseada na natureza jamais poderá ser legítima, visto que a natureza e o homem se encontram hoje radicalmente desvirtuados como resultado do afastamento da humanidade do seu Criador. A natureza como a temos hoje se afasta do estado original em que foi criada. Não pode servir como um sistema de valores para a conduta dos homens.
Éticas Religiosas
São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.
Éticas Religiosas Não Cristãs
No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação.
O conceito hindú de não matar as vacas vem de uma crença do período védico que associa as mesmas a algumas divindades do hinduísmo, especialmente Krishna. O culto a esse deus tem elementos pastoris e rurais.
O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.
É muito comum na sociedade moderna o conceito de que Deus (ou deuses?) seja uma espécie de divindade benevolente que contempla com paciência e tolerância os afazeres humanos sem muita interferência, a não ser para ajudar os necessitados, especialmente seus protegidos e devotos. Essa concepção de Deus não exige mais do que simplesmente um vago código de ética, geralmente baseado no que cada um acha que é certo ou errado diante desse Deus.
A Ética Cristã
Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos.
Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:
3. O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.
4. Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem
Assim, muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que devem reger nossa conduta neste mundo. Ela considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial, a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito. Evidentemente não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem diferentes áreas da vida humana. É na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.
É precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas. Desde que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana, suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo criado e ganharmos o nosso pão.
É nas Escrituras Sagradas, portanto, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro de regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para que o homem pudesse vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. A ética cristã fundamenta-se na obra realizada de Cristo e é uma expressão de gratidão, muito mais do que um esforço para merecer as benesses divinas.
A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais o homem poderá chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são a vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.
Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes