Nos longos meses que passou na prisão João da Cruz adquiriu uma consciência preciosa do quanto desejava sentir a presença de Deus. Seus colegas o traíram, seu ministério havia sido arruinado e ele se encontrava confinado num calabouço desumano. Das profundezas de sua alma, onde só a dor pode chegar, ele clamou:
Onde te escondeste,
Amado, e me deixaste a gemer?
Como um cervo
fugiste
tendo me ferido;
Saí à tua procura e havias partido.
No entanto, sua noite escura de anseio insaciado por Deus tornou-se a ocasião para uma visita de Cristo. João descreveu seu encontro com o divino em palavras que nos deixam ao mesmo tempo desconcertados e anelantes.
Chama, viva, constrangedora
e, não obstante, de indescritível ternura
que alcança o cerne recôndito de minha alma!
Queimadura para me curar!
Ferida de prazer, os sentidos meus a superar!
Ah, carícia é o toque de tua suave mão
Do céu o antegosto transmitindo
e toda e qualquer dúvida remindo;
ao me abater, me dás a vida em troca da morte que causa aflição.
Ó lamparinas, com sua chama queimando
que com brilho reluzente, vão transformando
a caverna profunda de minha alma em luz irradiante!
Outrora repleta de sombras, obscura e ignorante,
agora com resplendor novo e incandescente
dá-me calor e refulgência que enche meu Amor de delite.
Ah, com ternura e sempre a amar
despertas dentro de mim, para provar
que aí estás sozinho e secretamente;
tua respiração fragrante me aquieta,
de tua graça e de tua glória minha alma deixa repleta
teu amor se torma meu tão carinhosamente.
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