quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Encontros são milagres ou são macumbas — milagres quando os sentimos bons, e macumbas quando os sentimos maus.


Quase ninguém pensa no milagre do encontro. Entretanto, num mundo imenso para nós, cada vez maior nas quantidades, cada vez menor nos espaços, em meio a tantos bilhões de variáveis, nas quais átimos de volição ou impulso podem mudar montanhas ou fazê-las sumirem na cratera do esquecimento ou da não-percepção.

Um encontro errado, uma pessoa errada, uma iniciação errada, um amigo errado, um dia mal, uma decisão equivocada, uma conseqüência inapelável, uma existência convertida em outra, um outro sentir, um outro ver-se a si mesmo, um outro ver-se no olhar dos outros, uma outra definição de si mesmo perante o mundo, uma outra postura, talvez agressiva, talvez passiva; enfim… — um outro produto humano como variável de uma matriz original de infindas alternativas.

A liberdade do homem reside na sua ignorância das infindas alternativas.

O homem é livre de saber, pois, saber lhe seria a angustia insuportável tomando-o por todos os lados.

Uma pessoa toma uma decisão de visitar amigos, gosta do lugar, muda para lá, e encontra alguém que muda a sua vida. Mas o que a tirou de casa foi uma delicadeza para com um amigo que insistia e pedia uma visita.

Uma disputa entre amigos em razão de uma banalidade faz um rapaz e uma moça se encontrarem, e, mesmo sem amor para tal, casarem-se. E suas vidas nunca mais poderem ser outra coisa.

Um encontro. Um ato impensado. Um filho. E um destino radicalmente alterado.

Uma decisão: “Desço ou não do ônibus aqui nesta parada?” — e a vida da pessoa pode mudar para sempre; pois, nesta hipótese, a mulher que desce do ônibus tropeça na descida, e cai nos braços de um homem que a ampara daí pra sempre.

Assim, um dia, saberemos por quantos atos milagrosos fomos feitos e fomos salvos.

Entretanto, é bom que se veja e que se busque entender cada instante-milagre que nos acomete.

Um segundo a mais… — e ele, ela, teriam virado a esquina para além do alcance de nosso olhar…

Tudo é co-incidência: incide junto.

Quase tudo em nossa vida é feito de “acasos” carregados de “desígnios”; e se desígnios não tivessem, mistério, todavia, não lhes faltaria; pois é como é possível que um segundo antes ou depois nos roubassem a oportunidade daquilo que passou a ser o resto-todo de nossas existências?

Assim, encontro é milagre, até quando é um mijagre.

Pense nisso!
Caio

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