quarta-feira, 9 de maio de 2012

Primeiro Interlúdio





Sentenças geram nosso mundo real.
Só é possível viver o que nossa linguagem pode traduzir, aludir, definir...
Realidade construída com palavras,
Como se não houvesse vida
Antes do primeiro fonema.

Letras que engendram morte e vida, guerra e paz, alegria e tristeza, amor e ódio...
O ser humano prisioneiro do próprio discurso,
Das próprias dicotomias maniqueístas que elaborou,
Ao longo dos séculos, engenhosamente, lentamente, pacientemente, na mente...

Instrumento ambíguo que salva e destrói:
Linguagem, só linguagem, nada mais...
Mas cremos numa realidade gramatical com a fé simples das crianças,
E tomamos nosso mundo de palavras como onipotente, onipresente...

Raça que julga o discurso capaz
De abarcar qualquer situação,
De explicitar quaisquer sentimentos, sensações, emoções...
Supõe resolver seus pseudo-problemas precisando conceitos e definições.

Homem: refém do som da sua voz, dos seus escritos, das suas verdades, da sua ciência...
São tantas as prisões lingüísticas que se auto-impôs!
Há que silenciar, há que se libertar
Legitimando o não-científico,
Aceitando o inefável,
Reconhecendo o indizível inerente a vida, ao mundo, a tudo, a todos, a nós...

(Ana Paula Ricci in: Realidade Linguística)


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