
(Saramago)
Outsider: Capacidade de observar fatos que os "insiders" não percebem. Capaz de compreender, sistematizar a superestrutura da sociedade e as relações pessoais e sociais; diante desse sistema insatisfatório, criando seu espaço particular e construindo vinculações lógicas incompreensíveis para os insiders. Sabe-se que se está fora do mundo, não pertencendo a ele, e que a vida está irremediavelmente longe do cotidiano das pessoas "normais".
Esse quadro, devo repetir, é de certa forma unilateral. Assim como ocorre com a doutrina de que não se deve ser egoísta, também há muita propaganda da tese oposta na sociedade moderna: tenha em mente suas vantagens, aja de acordo com o que for melhor para si; fazendo assim você também estará agindo para o maior proveito de todos.
Com efeito, a idéia de que o egoísmo é a base do bem-estar geral constitui o princípio sobre o qual se ergueu a sociedade competitiva. É de estarrecer como dois princípios aparentemente tão contraditórios puderam ser ensinados lado a lado na mesma cultura; quanto ao fato, porém, não há dúvida. Uma conseqüência dessa contradição é a confusão do indivíduo. Dividido entre essas duas doutrinas, ele fica seriamente inibido para integrar sua personalidade. Essa confusão é uma das fontes mais expressivas da perplexidade e atarantamento do homem moderno.
A doutrina de que o amor a si mesmo é idêntico a “egoísmo” e uma alternativa para o amor a outros invadiu a Teologia, a Filosofia e o ideário popular (…) Acodem as seguintes perguntas: (…) será o amor a si próprio o mesmo fenômeno que o egoísmo, ou serão eles opostos entre si? Outrossim, será o egoísmo do homem moderno uma preocupação consigo mesmo como indivíduo com todas as suas potencialidades intelectuais, emocionais e sensuais? Não terá ele se convertido em um apêndice de seu papel sócio-econômico? Será o egoísmo idêntico ao amor-próprio ou não será ele causado pela própria falta deste? (…)
Egoísmo e amor-próprio, longe de serem idênticos, são de fato opostos. A pessoa egoísta não ama a si mesma demasiadamente, mas muito pouco; com efeito, ela se detesta. Essa falta de ternura e desvelo por si mesma, que é apenas uma expressão de sua falta de produtividade, deixa-a oca. Ela forçosamente se sente infeliz e ansiosamente preocupada em agarrar com avidez as satisfações da vida que ela se impede a si mesma de conseguir. Parece inquietar-se por demais consigo, mas na verdade o que faz é tão só uma malograda tentativa de disfarçar e compensar sua deficiência para cuidar de seu verdadeiro eu. Freud alega que a pessoa egoísta é narcisista, como se tivesse retirado seu amor dos outros e o tivesse voltado para a própria pessoa. É fato que os egoístas são incapazes de amar a outros, mas não são tampouco capazes de amar a si mesmos.
ERICH FROMM
- Estão aí os protestantes?
- Não, aqui não se encontra um protestante sequer.
- Que me dizes?! Os protestantes, não alcançaram a salvação mediante o sangue de Cristo?!
- Já lhe disse e repito: não há aqui protestantes.
- Então, será que aqui estejam os católicos-romanos, os membros daquela Igreja que abjurei?
- Tão pouco conhecemos aqui os filhos dessa igreja; não existem aqui romanos.
- Estarão, quem sabe, os partidários de Maomé ou de Buda?
- Não estão, nem uns, nem outros.
Intrigado, indagou então o instituidor da Reforma Protestante:
- Dar-se-á, acaso, que o Céu se encontre desabitado?
- Tal não acontece – tornou serenamente o anjo. – Incontáveis são os habitantes da casa do Pai, ocupando todas as suas múltiplas moradas.
- Dize-me, então, depressa: quem são os que se salvam, e a que igreja pertencem na Terra?
- A todas e a nenhuma – aclarou por fim o guardião da entrada das Celestes Moradas. – Aqui não se cogita de denominações, nem de dogmas. Os que se salvam são os que visitam as viúvas e os órfãos em suas aflições, guardando-se isentos da corrupção do século. Os que se salvam são os que procuram aperfeiçoar-se, corrigindo-se dos seus defeitos, renascendo todos os dias para uma vida melhor. Os que se redimem são os que amam o próximo e renunciam ao mundo, com suas fascinações. São os que porfiam, transitando pelo caminho estreito, juncado de espinhos: o caminho do dever. Os que se purificam são os que obedecem à voz da consciência, e não os reclamos do interesse. Os que conquistam a Divina Graça são os que trabalham pela causa da Justiça e da Verdade, que é a Causa de determinadas agremiações com títulos e rótulos religiosos. Os que aspiram à glória de Deus, ao bem comum, à felicidade coletiva. Os que se salvam...
Basta! - Atalhou Lutero. Já compreendo tudo: preciso voltar à Terra e introduzir certa reforma na Reforma.
"Siga seu senso comum
Você não pode se esconder
Atrás de um conto de fadas
Para sempre e sempre
Apenas revelando toda a verdade nós podemos descobrir
A alma desse reduto para sempre
Para sempre
Mentes doutrinadas com muita freqüência
Contém pensamentos doentios
E cometem a maioria dos pecados que eles pregam
contra
Não tente me convencer
Com mensagens de Deus
Vocês nos acusam de pecados
Cometidos por vocês mesmos
É fácil condenar sem olhar no espelho
Atrás das cenas abre a realidade.
Silêncio eterno implora por justiça
O perdão não está à venda
E nem a vontade de esquecer
A virgindade foi roubada há muito tempo atrás
E o extintor perdeu sua imunidade
Abuso mórbido de poder no Jardim do Éden
Onde a maçã possui um rosto jovem
Você não pode continuar se escondendo
Atrás de contos de fadas ultrapassados
E continuar lavando suas mãos na inocência"
(Épica - Cry For The Moon)
As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia - num sentido bem real - sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. "Evangélico" vem de "evangel", que é o termo grego para "evangelho". Deste modo, os "evangélicos" eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e "seitas". Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.
O "Evangel"
A Reforma era uma coleção de "solas" - esta é a palavra latina para "somente". Eles vibravam ao dizer "Sola Scriptura!", significando, "Somente as Escrituras". A Bíblia era a "única regra para fé e prática" (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos "espertos", mas isso nunca significou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.
O principal ponto de "Sola Scriptura" então, era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.
Como nós ajustamos as coisas hoje?
A questão, é claro, é se "evangélico" hoje significa o que significou há quinhentos anos.
Trocamos nossa rica dieta por um saco de pipocas e estamos mal nutridos. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de "evangélicos" "evangélicos". A Bíblia - nosso único fundamento; Cristo - nossa única esperança; Graça - nosso único evangelho; Fé - nosso único instrumento; a Glória de Deus - nosso único alvo; o Sacerdócio de todos os santos - nosso único ministério. Este evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande.
Extraído do Jornal "Os Puritanos" Ano V - Número 3
Fundamentos da Ética Cristã
Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida individual, a vida da empresa e de nossos semelhantes.
Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências exatas é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos e vivemos.
As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo individual e social. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.
A nossa palavra "ética" vem do grego eqikh, que significa um hábito, costume ou rito. Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de princípios ideais da conduta humana, as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros de uma sociedade.
Ética é o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões.
Alternativas Éticas
Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões...!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.
Éticas Humanísticas
As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-
Hedonismo
Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego |hdonh, "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.
Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.
Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. Freqüentemente somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. A ética natural do homem é o hedonismo. Instintivamente, ele toma decisões e faz escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo que lhe dará maior prazer e felicidade. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas atuais de hedonismo.
O hedonismo não tem muitos defensores modernos, mas podemos mencionar Gustav Fechner, o fundador da psicofísica, com sua interpretação do prazer como princípio psíquico de ação, a qual foi depois desenvolvida por Sigmund Freud como sendo o princípio operativo do nível psicanalítico do inconsciente.
Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da existência humana.
Utilitarismo
Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.
Pessoas influenciadas pelo utilitarismo escolherão soluções simplesmente porque elas funcionam, sem indagar se são corretas ou não. Utilitaristas enfatizam o método em detrimento do conteúdo. Eles querem saber como e não por que.
Talvez um bom exemplo moderno seja o escândalo sexual Clinton/Lewinski. Numa sociedade bastante marcada pelo utilitarismo, como é a americana, é compreensível que as pessoas se dividam quanto a um impeachment do presidente Clinton, visto que sua administração tem produzido excelentes resultados financeiros para o país.
Existencialismo
Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte.
Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.
O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.
Ética Naturalística
Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.
Por incrível que possa parecer, essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.
A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor, a humildade e a piedade.
Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os "inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos (mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neo-nazistas nos muros de São Paulo contra negros, nordestinos e pobres. Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.
Os cristãos entendem que uma ética baseada na natureza jamais poderá ser legítima, visto que a natureza e o homem se encontram hoje radicalmente desvirtuados como resultado do afastamento da humanidade do seu Criador. A natureza como a temos hoje se afasta do estado original em que foi criada. Não pode servir como um sistema de valores para a conduta dos homens.
Éticas Religiosas
São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.
Éticas Religiosas Não Cristãs
No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação.
O conceito hindú de não matar as vacas vem de uma crença do período védico que associa as mesmas a algumas divindades do hinduísmo, especialmente Krishna. O culto a esse deus tem elementos pastoris e rurais.
O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.
É muito comum na sociedade moderna o conceito de que Deus (ou deuses?) seja uma espécie de divindade benevolente que contempla com paciência e tolerância os afazeres humanos sem muita interferência, a não ser para ajudar os necessitados, especialmente seus protegidos e devotos. Essa concepção de Deus não exige mais do que simplesmente um vago código de ética, geralmente baseado no que cada um acha que é certo ou errado diante desse Deus.
A Ética Cristã
Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos.
Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:
3. O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.
4. Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem
Assim, muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que devem reger nossa conduta neste mundo. Ela considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial, a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito. Evidentemente não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem diferentes áreas da vida humana. É na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.
É precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas. Desde que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana, suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo criado e ganharmos o nosso pão.
É nas Escrituras Sagradas, portanto, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro de regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para que o homem pudesse vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. A ética cristã fundamenta-se na obra realizada de Cristo e é uma expressão de gratidão, muito mais do que um esforço para merecer as benesses divinas.
A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais o homem poderá chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são a vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.
Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes